Páginas

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Adeus

     Ouvi um barulho estrondoso e quando dei por mim estava aqui: atirado ao chão. Não sei de que lado veio, mas senti um peso na cabeça e perdi o equilíbrio rápido demais. Agora estou deitado, tudo o que consigo ver são as nuvens cortando lentamente o céu. Jamais havia reparado na forma delicada como elas se movem, dá uma sensação de paz.

     O chão outrora seco ficou úmido tão rapidamente. Sei que não é água, é o sangue que foge com pressa do meu corpo que morre. Minha pulsação, cada vez mais fraca, me diz que não terei muito que esperar, a hora derradeira se aproxima. Não há nada a ser feito, a mim resta aguardar até que minha vida tenha se esvaído por completo.

     A morte é a única certeza, mas, não imaginei que viria agora. Pensando bem, seria tolice pensar que a morte espera até a hora que nos convém. Lamento por meus sonhos. Pensei que os realizaria. Pelo menos alguns. Mas agora, não há mais porque sonhar. Minha vida se reduz a mais alguns minutos.

     Amigos. Nesses poucos anos tive alguns. Sinceros, verdadeiros, amigos. É uma pena ter que deixá-los. Lamentável não poder agradecê-los pela amizade que me devotaram. Sinto o mesmo pela minha família. Sempre estiveram comigo, poucas foram as vezes em que me senti só. Mas agora, ironicamente, não há ninguém aqui. Não há lágrima alguma para amenizar minha dor.

     Não sei o que fiz de errado para chegar a este momento. Pra ser sincero, não imagino quem possa ter ceifado minha vida. Talvez eu seja apenas mais uma vítima do acaso. Apenas mais um cuja existência é reduzida por obra do destino. A vida é curta. A minha está sendo. Quantas coisas perderei: o ápice da adolescência, a utopia do primeiro amor, a agonia do vestibular, a dádiva do primeiro filho.

     Enfim, é injusto privar-me a vida. Logo agora que comecei a sentir o real sabor da existência? Logo agora que faltam poucos dias para o meu 13º aniversário? Minha breve vida já passou diante de meus olhos inúmeras vezes nesses minutos. Já lembrei todos. Lembrei de tudo.

      Lembro de minha mãe, quanto ela me ama. Lembro de seu olhar de alegria ao me ver, de seu sorriso acolhedor, de sua voz calma. Calma. Calma como as nuvens que agora vejo. Não sei se é impressão, mas elas estão mais próximas. Sinto que se esticar um pouco o braço posso tocá-las. Mas, não sinto mais meus braços, pernas.

     De repente fiquei com sono. Minhas pálpebras pesam demais. Está ficando difícil pensar. O céu começa a se envolver de tons cada vez mais escuros. As nuvens estão se desfazendo lentamente diante dos meus olhos. Imagino o que está para acontecer. Devo agora apenas contemplar as ultimas imagens que se projetam em minha mente.

      É chegado o fim. É chegada a hora da despedida. Obrigado por me acompanhar, ainda que a distância, nesses últimos minutos. A você, recomendo que viva enquanto pode. A morte não espera. A morte. Talvez sejam dela esses olhos ásperos que vejo agora. Deve ser ela que me carrega no colo agora com suas gélidas mãos. Adeus. Ah, Deus!

Um comentário:

Se você gostou do texto acima, fique a vontade para comentar. Críticas, elogios ou sugestões serão sempre aceitos. Se acaso achares que o blog merece, siga-o.
Obrigado. R.H.