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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Solitário

     Solitário ele caminhava. Sem motivos, sem perspectivas. Apenas seguia o caminho em linha reta sem nunca desviar sua atenção. Permaneceria assim, não fosse a ação do destino, que o convidou a enveredar por trilhas que desconhecia: desbravaria as fronteiras inóspitas do próprio coração.

     Ele nada entendia de repente o caminho outrora reto se enchera de curvas, as curvas perfeitas de uma pele morena. Seu mundo escuro ganhara o brilho daqueles olhos azuis. Nada mais era como antes, o mundo o convidara à vida pelos braços daquele anjo sedutor. Existiam agora mil motivos. As perspectivas eram todas sobre um futuro ao lado de sua salvadora.

     A vida ganhara o sabor viciante daqueles lábios. Dia a dia os planos iam se concretizando, primeiro o casamento, depois um filho. Ele já não lembrava o que fora no passado, nem queria. Começara a viver no dia em que conheceu aquela deusa dos trópicos de olhar europeu. Ela e seu filho eram tudo o que importava.

     A felicidade seria eterna. Mas, o amor, que pode passar a eternidade dentro de um coração, não consegue durar muito no mundo dos homens. Percebendo que este não se acabaria entre aquele casal, o destino, que outrora salvara nosso andarilho, agora ceifaria sua fonte de vitalidade.

     Diferente da chama que arde dentro dos homens e os mantém vivos, a chama do mundo é impiedosa, destruidora. E foi essa chama a arma escolhida pelo destino. Durante a ausência do pobre homem, um incêndio devorara com voracidade sua casa, seu amor, sua vida. Tudo se acabara em poucos minutos.

     Ele sentia a alma dilacerada. Sem o brilho daqueles olhos, o fantasma obscuro do passado voltou a acompanhá-lo. A solidão o prendera em seu laço novamente, e não o deixaria escapar. Era novamente apenas um andarilho errante. E mais uma vez ele caminhava solitário. Sem amor, sem coração. Apenas seguia vazio por um caminho que já conhecia.

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