Páginas

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Recordação

     Estive pensando em nós ultimamente. Dediquei-me a relembrar cada momento que passamos juntos. É incrível o quão verossímil nossa imaginação pode ser quando queremos. Como se fosse um filme, revi cada instante, cada sorriso, cada beijo, cada suspiro. Pareceu-me tão real que eu já não queria voltar à realidade. Viver essa eterna nostalgia para mim bastaria.
     Pouco a pouco, pude recordar com carinho tudo o que aconteceu enquanto estávamos juntos. Rememorei a primeira vez que lhe vi: o encanto inevitável que teus olhos provocaram ao encontrar os meus. Um encanto que fez nascer em mim a desconhecida paixão. Paixão avassaladora, que me consumia e induzia a te querer. Que fazia meu coração tentar desesperadamente palpitar em sintonia com o teu.
     Mas eu sabia que não merecias somente paixão. Afinal, é algo tão efêmero, desperto pelos encantos momentâneos, que com o tempo se perdem. Eu queria te oferecer mais. E foi com o tempo que um sentimento digno de você pode se fortalecer em mim: o amor. Pois este, diferente da paixão, não surge nos primeiros momentos.
     O amor por uma mulher surge quando os efeitos da paixão são superados, quando a real beleza feminina se mostra. Pois esta vai além daquele deleite provocado aos olhos pelas perfeitas formas e traços. É um encanto que se revela aos poucos, nas manias, desejos, segredos que se escondem nos confins do coração da mulher amada. É quando as qualidades são reveladas e os defeitos, por maiores que sejam, são tolerados e caem frente aos sentimentos.
     Por te amar em demasia, minhas memórias permanecem intactas. Sei que já faz algum tempo, mas ainda assim tudo permanece tão vivo em minha mente. Quando fecho os olhos, é como se pudesse ouvir-te sussurrar juras de amor ao meu ouvido. Sinto o teu perfume inebriante. E por mais que eu saiba que são os meus sentidos que estão a me ludibriar novamente, eu não ouso abrir os olhos.
     Embora pensar em tudo o seja maravilhoso, ainda é doloroso para mim. Ter que sair da tua vida de forma tão violenta e prematura me machucou. Sofri inconformado, tentando entender os motivos, tentando justificar a dor. Sei que também foi doloroso para ti. Pude sentir tuas lágrimas. Para cada lágrima tua mil minhas foram derramadas.
     Hoje consigo aceitar nossa separação. Entendo que houve fortes motivos para tal. Desde então, passo meu tempo recordando de como éramos. Do quanto fui feliz contigo. E isso me conforta de certa forma. Mas percebo que ainda não conseguistes superar a perda. E te entendo. Não há ninguém aí que possa te explicar as verdadeiras razões de tudo.
     Por isso estou aqui. Sei que mesmo dormindo, podes me ouvir. Ao despertar, terás a certeza que foi um sonho. Mas estou aqui. Enquanto falo estas palavras, estou olhando teu rosto. Sentindo tua suave e harmônica respiração. Desejando-te ainda mais. Mas por mais que tente, não posso te tocar.
     Agora já não me resta mais muito tempo. Quero apenas dizer que te esperarei. Mas não deves te privar de tua vida. Viva! Seja feliz! Faça isso e será a maior das provas de amor. Estarei aqui velando por ti. Aguardando pacientemente o momento em que seremos um novamente. Até logo, meu amor.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Vestibular

     Tensão. O forte pulsar do coração, arredio, dentro do peito denota isso. O tempo não passa. Segundos são como minutos, minutos são como horas. Tensão. No rádio, entre uma música e outra anunciam que restam poucos minutos para o fim da agonia. Não existem mais unhas, todas foram roídas. A espera é quase uma tortura. Mas o receio da decepção é uma maior ainda.
     Então uma espécie de filme começa a passar na mente. Composto pelas mais variadas cenas: as muitas horas de estudo; as frustrações causadas pelas derrotas anteriores; os rostos daqueles que depositam todas as esperanças no sucesso disso tudo. O coração bate mais forte. O medo aumenta, assusta.
     Então o pensamento muda de cor, agora exibe tons otimistas: a possível alegria futura; a festa que poderá acontecer em algumas horas; os sorrisos e abraços sinceros e orgulhos que poderá receber. O medo perde terreno frente ao otimismo. E essa batalha épica se segue durante os longos minutos de espera.
     Existe ainda a fé. Recorrer às crenças ameniza a aflição. São preces e mais preces, mas só um pedido: o sucesso. Será, Deus, minha vez? Serei eu digno de tal glória? – Ele pergunta. Mas sabe que a resposta virá, em alguns minutos. Esperar sentado é impossível. É preciso andar, correr, mesmo que seja em círculos. Qualquer coisa que desvie a atenção.
    O rádio anuncia: é agora. Volume aumentado. Pensamento concentrado. Mais do que nunca é preciso compreender cada palavra que será dita. É preciso ter certeza. Mas são muitos cursos, nomes. É preciso esperar. Ainda mais. Não há nada a se fazer além disso. As mãos começam a suar. A hora se aproxima.
     Eis que falam o nome do curso. A metralhadora de aprovações começa a deflagrar os nomes dos felizardos. Mas eles estão em ordem alfabética. Parece que a inicial esperada nunca vai chegar. Vai se aproximando vagarosamente o momento em que o sonho irá se realizar, ou não.
     Chega então a tão esperada letra. Dedos cruzados. Fé. Respirar é tarefa impossível. Há muito em jogo. Há um futuro em jogo. Os lábios tremem inquietos aguardando o momento para soltar o grito há muito preso na garganta. Os nomes vão saindo e bingo: saiu meu nome.
     O grito sai, mas a ficha não cai. Será que me enganei? O telefone toca. Alguém me parabeniza. "Não estou louco sozinho", penso. Toca mais uma vez. Mais outra, e outra. É, enfim é possível acreditar: consegui. A lembrança de tudo o que passou até aquele momento trás consigo lágrimas. Não mais lágrimas de sofrimento, mas sim de alegria. As lágrimas do dia mais feliz de uma vida.
     21 de janeiro de 2011 será um dia eterno. As lágrimas da mãe orgulhosa, que sabe quão árdua foi a luta. O sorriso de um pai, tentando a todo custo conter um choro de orgulho. A vibração de um avô que agradece por ver o primeiro neto a entrar na federal. Os olhares, abraços e beijos de admiração. Enfim, é uma sensação indescritível. Tão aguardada e que trás consigo um sabor desconhecido. O sabor de um sonho realizado. Obrigado Deus!



     Dedico este post ao meu grande brother Gustavo Ferreira que, assim como eu, também foi calouro na UFPA, à amiga Mônica que também teve a alegria da aprovação, ao brother Leandro, mais novo calouro de matemática, e a  todos os outros que passaram merecidamente e possivelmente entenderam a sensação que eu tentei descrever no decorrer das linhas
acima. Talvez não tenha conseguido tão bem, mas é porque é simplesmente impossível descrever com
exatidão.
     Agradeço aos amigos que estiveram comigo comemorando e bebemorando esta conquista.
     Valeuuu!