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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Acaso - Parte 1

     Completávamos seis meses de namoro naquele dia. Tempo suficiente, segundo Carla, para que eu pudesse conhecer melhor a família dela. Os pais moravam em outro estado. A irmã morava em uma cidade próxima e estava na cidade passando alguns dias. Logo, a ocasião perfeita para que eu a conhecesse. Marcou, então, um jantar. Na verdade, eu bem sabia que Carla queria a aprovação da irmã para confirmar se deveríamos seguir em frente, porém, não me importava.

     Desde cedo ela havia começado a me alertar sobre como a noite deveria ser. Confesso que ouvia muito pouco do que ela falava. Pra ser sincero não lembro nada. Talvez por isso nossa relação dava tão certo: o papel dela era falar; o meu, escutar – pelo menos fingir- e ao final dizer “entendo amor”. Recomendo a fórmula a qualquer homem. É infalível. Todos sabem que uma mulher sempre quer um homem para escutar o que ela não pode falar para as amigas. Isso por que, geralmente, é sobre as próprias amigas que elas falam. Mas, deixemos isso de lado.
     
     O combinado foi o seguinte: eu sairia do trabalho; vestiria-me impecavelmente; iria buscá-la e depois encontraríamos a irmã dela no restaurante do hotel onde ela estava hospedada. Juro que pensei que seria simples assim. Mas não foi. Vou logo adiantando que a culpa não foi minha, então, não me julguem.

     Fiz tudo conforme o combinado. Usei até uma camisa nova que estava guardando para uma ocasião especial. Porém, na parte dela é que as coisas se enrolaram. Quando cheguei a casa dela na hora marcada ela ainda estava se arrumando. Não era nenhuma novidade, mas, dadas as recomendações que fui forçado a aturar durante todo o dia, me senti no direito de reclamar.

     Ela entrou no carro com as costumeiras perguntas: “demorei?”, “estou bonita?”. Fui simplesmente monossilábico: “sim e sim”. Foi a gota d’água. Não me perguntem por que, mas, depois da minha resposta, o estresse tomou conta da mulher. Iniciou-se uma DR ali mesmo, a caminho do restaurante. Como sempre, eu escutava e tentava contornar as coisas, mas o tom de desabafo de tudo que ela dizia fez com que eu começasse a falar também.

     Quando parei o carro em frente ao hotel, ela saiu do carro com lágrimas nos olhos. Disse-me que eu era insensível, que não a procurasse mais. Enfim, senti que tudo o que ela havia guardado durante aqueles seis meses acabou por sair naqueles dez minutos de percurso. Até o carro ficara mais pesado depois de tantas palavras.

     Fui para casa. No dia seguinte tentei ligar para ela. Como não me atendeu, não liguei mais. Embora gostasse dela, tinha acima de qualquer coisa meu orgulho, e não passaria por cima dele por ela. Ela também não me ligou. Percebi que a vida deveria seguir. Foi difícil no começo, afinal, depois de seis meses se acostumar com as idiossincrasias do outro é inevitável.

     Aos poucos fui voltando à vida de antes. Os amigos me ajudaram muito nisso. Futebol, barzinho, balada. Tudo isso fazia parte da minha rotina novamente. Não estava disposto a abrir mão disso tão cedo. Mas, o futuro é imprevisível. Em uma tarde tudo mudaria.


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