Páginas

sábado, 18 de dezembro de 2010

Somni

     E lá estava ela, mais uma vez, diante da minha cama. A imagem diante que eu via era a da perfeição. Curvas generosamente esculpidas pelo bom Deus, as quais faziam meus olhos ostentarem um brilho de êxtase. Contemplá-la por si só já era um delírio. Poderia viver eternamente diante daquela imagem.

     O movimento de seus cabelos era quase hipnótico, bem como seu olhar fixo em meus olhos. Os rubros lábios em conjunto com seu nariz afilado davam ao seu rosto aquela harmonia de ninfa grega que excita e incita.

     Como de costume me perdi imerso em tal contemplação, até o momento em que ela caminha até mim, e eu desperto, vagarosamente, acompanhando o sutil balançar de seus quadris, que contrastam com a afinada cintura. Então ela se deita sobre mim e com seu beijo quente me traz de volta ao mundo.

     Sinto o calor de seu corpo se misturar ao meu, como duas chamas que se unem para arder com mais intensidade. Não consigo conter minhas mãos, que anseiam por percorrer cada milímetro daquele corpo, tateando sutilmente sua veludosa pele, que a este momento tem os poros eriçados por seguidos arrepios.

     O desejo é latente. A vontade é a dona do momento. Amamos-nos. E por alguns instantes, temos a sensação de que o mundo inexiste. As imagens desaparecem, os sons se calam, tudo que existe somos nós envoltos em nossas carícias, ao som de sussurros e leves gemidos.

     Pouco a pouco, vamos nos afinando para compor a sinfonia perfeita. Os acordes se sobrepõem, se entrelaçam. A cada toque uma melodia, a cada beijo se mostra a sintonia. E vamos atingindo o ápice do prazer juntos, até o desfecho: o último suspiro de êxtase de nossa ópera amorosa. Eu então deito, e fico a contemplá-la até que o sono venha. Adormeço e ela é ultima imagem que tenho.

     O sol se lança ao céu para trazer um novo dia. Sua luz, que penetra pela janela, me avisa que devo acordar. Abro os olhos e como de costume não a vejo. É sempre assim. Preparo-me para mais um dia de trabalho. Tomo um rápido café e saio.

     Durante o percurso, o engarrafamento da capital me concede um tempo para repassar na mente as imagens da noite passada. Relembro cada instante com prazer. Nem mesmo as buzinas constantes não conseguem me livrar de meu devaneio. Sigo assim por todo o caminho até chegar ao meu destino.

     Entro na firma e como de costume cumprimento os amigos e vou ao meu lugar. Então a vejo chegar. Ela está tão linda quanto na noite anterior, porém mais vestida. Ainda que a veja todos os dias, não entendo como ela consegue estar cada vez mais bela. Sigo a observando até a sala dela.

     Ela fica lá por algum tempo. Depois sai e vai buscar algo para beber. Levanto-me da mesa. Caminho em direção a ela. Vou dar-lhe um beijo, desejar-lhe bom dia e dizer que a noite anterior foi a mais incrível da minha vida.

     Enquanto vou seguindo pelo corredor, ela vem caminhando em minha direção. Como ela é linda. Então, ela passa por mim e como sempre, nem levanta o olhar. Simplesmente me ignora como se eu não existisse. Nem ao menos um bom dia.

     Eu paro e fico a observá-la até que ela entre novamente na sala. Frustrado por não ter feito o que queria. Angustiado por ter que contemplá-la diariamente sem que ela nem ao menos me dirija a palavra.

     Porém, o que me consola é saber que em meus sonhos eu a tenho. Saber que hoje à noite, mais uma vez, lá estará ela, diante da minha cama. Contemplarei mais uma vez seu corpo nu e nos amaremos. Pelo menos em meus sonhos, nos amaremos.

3 comentários:

Se você gostou do texto acima, fique a vontade para comentar. Críticas, elogios ou sugestões serão sempre aceitos. Se acaso achares que o blog merece, siga-o.
Obrigado. R.H.