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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Acaso - Final

     Embora não fosse um ávido leitor, sabia que era preciso ler pelo menos um livro por ano. Nem que fosse o “Best Seller” do momento, só para ter assunto em uma possível conversa. Fui até uma livraria. Caminharia até o vendedor, perguntaria o livro mais vendido do mês, o compraria e sairia. Era o roteiro de sempre. Mas, uma capa de um livro chamou minha atenção e fui até ele.

     Como apenas observar não bastava, peguei-o nas mãos e fiquei contemplando a imagem da bela mulher que o ilustrava. Foi quando uma voz suave falou: “Nossa, um homem que gosta de romances. Coisa rara de se ver”. Imediatamente, virei para responder, mas faltaram-me as palavras. A mulher conseguia ser mais linda que a voz.

     Meio que balbuciando mantive o assunto com ela, comecei falando da meia dúzia de livros que já havia lido em toda a minha vida, mas tomando cuidado, é claro, para parecer um amante literário. Fiquei impressionado com o interesse dela sobre tudo o que eu falava.

     Convidei-a para um café. Ela aceitou. Fiquei nervoso. Jurava que ela iria recusar. Mas o que mais me assustava era saber que meu nível de leitura só me garantia mais meia hora de papo. Deveria então usar de artifícios para mudar o rumo da conversa. E consegui. Bastou perguntar da vida dela e tivemos assunto para a tarde toda.

     Fiquei encantado. Seu nome era Ângela. Era linda e inteligente. Contou-me que havia mudado para a cidade há pouco tempo. Peguei seu telefone e dois dias depois nos encontramos novamente. E o encanto aumentava. Após alguns encontros pedi-a em namoro. E, para minha alegria, ela aceitou. Nunca imaginei que um livro poderia me trazer tanta sorte. Estávamos apaixonados e eu já não conseguia me ver sem ela. Minha relação de dois meses atrás já havia ficado no passado. Eu sequer havia comentado com ela.

     Quando completamos três meses de namoro decidimos comemorar com um a festa: pedi que ela convidasse os amigos para que eu os conhecesse. Ela então organizou um almoço. Seria perfeito. Definitivamente eu queria conhecer as pessoas que a cercavam, afinal, agora eu fazia parte da vida daquela mulher maravilhosa. Queria que todos soubessem.

     No dia marcado fui até a casa dela. Surpreendi-me pela quantidade de carros. Definitivamente ela tinha muitos amigos. Assim que bati a porta, ela abriu com um enorme sorriso. Aquele sorriso das mulheres quando querem dizer alguma coisa: “Amor, você não vai adivinhar. Minha irmã chegou de viajem e veio almoçar conosco. Estar ansiosa para te conhecer. Seja gentil com ela, há poucos meses ela terminou um relacionamento e está tentando superar.”

     Em meio a minha ingenuidade, apenas consegui dizer: “Pode deixar, serei o mais gentil possível. E fico contente por poder conhec...”. Não tive tempo de terminar. Ela chamou a irmã. Quando a moça se virou, a surpresa: era minha ex. Percebi no rosto dela que compartilhava da mesma sensação que eu, porém, seu olhar denotava certa raiva.

     Ela caminhou até nós me encarando. Fomos apresentados formalmente. Era impossível saber quem era o melhor ator, afinal, fingimos tão bem que nunca havíamos nos visto. Uma amiga chamou Ângela, que nos deixou a sós dizendo para conversarmos um pouco. Carla falava comigo de um modo que era possível perceber a mágoa, por eu ter superado nosso término relativamente rápido, e o ódio pela superação ter se dado com a irmã dela.

     Eu não sabia o que fazer. A cada palavra que Carla dizia, eu percebia que seria difícil continuar com aquele relacionamento. Ela não deixaria. Minha única reação foi deixá-la falando sozinha e sair da casa. Fiquei um tempo pensando sobre o que acontecera. Como a vida havia brincado comigo: tinha me apaixonado pela irmã da mulher que um dia amei. O que fazer?

     Mas, agora eu amava Ângela. Eu merecia viver aquele sentimento. Seria injusto simplesmente sair da vida dela. Injusto para ambos. Após alguns minutos tomei minha resolução. Entrei na casa novamente. Chamei Carla e falei:  "Sei que você vai fazer de tudo para que meu relacionamento dê errado com sua irmã, assim como o nosso. Porém, não ligo. Fique a vontade. Eu estou sentindo algo diferente por ela e não vai ser você quem vai atrapalhar."

     Ela simplesmente me olhou por alguns segundos. E disse que aprovava minha decisão. Demorei um pouco para acreditar. Ela então me disse que o importante era a felicidade da irmã. Mas que se eu fizesse algo de errado, teria de enfrente a fúria de duas mulheres. E quanto ao nosso antigo relacionamento, deveria ficar no passado. Seria nosso segredo.

     E assim as coisas seguiram. Hoje continuo com Ângela. Carla tornou-se uma grande amiga, mas continua solteira. Estou feliz. Percebi que não posso ir contra os rumos que a vida toma. E assim, hoje sigo sendo cunhado da ex-namorada e namorado da ex-cunhada.  


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