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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Engano

    Quando juntos, éramos a personificação do amor. Carícias, beijos, promessas. Protagonizávamos cenas quentes dirigidas pela paixão voraz. Compartilhávamos sonhos para um futuro próximo. Tínhamos uma eternidade pela frente. Entretanto em pouco tempo tudo mudou completamente. Sem justificativas ela saiu do meu mundo, deixando-me perdido. Confesso que não entendi seus motivos, mas agora já não importa.
     Sentir-me traído foi inevitável. Havia muito mais que desejo entre nós. Havia verdade, pureza de sentimentos. Pelo menos eu acreditei nisso. Acreditei com tamanha veemência e por tanto tempo, que parecia impossível me imaginar na situação em que estou agora. Sim, é difícil aceitar o que estou prestes a fazer, mas é a única opção que me resta. A única em que confio.
      Perdê-la foi difícil. Porém vê-la com ele foi demais. Foi um golpe inesperado. Não tive estabilidade para suportá-lo. Mas, após certo tempo, consegui me recuperar. Não aceitaria isso tão facilmente. Não depois de tudo o que vivemos. Ela não pode entrar e sair da minha vida como bem entende. Não é justo ser feliz sem ser comigo. Não depois de tudo que tínhamos planejado. Teríamos uma vida só nossa.
     Por tempos pensei em um modo para tê-la novamente. De todas as possíveis opções, só uma me pareceu coerente. E nela apostei tudo. Conseguir a arma não foi tão difícil, afinal, ninguém revista o carro de um oficial quando este deixa as dependências do quartel. A verdadeira dificuldade foi conseguir o local exato para me posicionar. Mas nada que o aluguel de um apartamento em frente ao que ela mora não resolvesse.
     Estou aqui há mais de duas horas. A arma está perfeitamente ajustada. Pela mira de precisão posso ver perfeitamente o quarto onde ela dorme. Mais precisamente estou apontando para a cama que ela compartilha com aquele infeliz que a roubou de mim. Mas hoje essa será definitivamente minha. Morreremos juntos. Ela pela bala ardente, eu pelo poderoso veneno. Meu sacrifício voluntário será a maior prova do que sinto.
     As luzes do quarto acabam de se acender. Ela adentra e se atira à cama. Está linda como sempre, mas parece cansada. É a primeira vez em quatro anos que a vejo. É incrível perceber que o tempo não deixou suas marcas naquele rosto que parece tão jovial quanto antes. Ela está na mira. Este seria o momento perfeito para atirar, mas a imagem dela não me deixa. Agora só consigo observá-la.

     Então ele aparece na mira. Curva-se sobre ela e beija-lhe os lábios. Maldito! Faz isso apenas para zombar de mim. Se eu puxasse o gatilho agora, não haveria como errar. Mas essa bala não pertence a ele. Somente aquela que eu amo é digna dela. Eles estão abraçados agora. É o momento perfeito para atirar e roubá-la daqueles braços. Mas antes vou me certificar que estaremos juntos. Preciso selar meu destino também. Alguns goles são suficientes para tal.
     Agora já está feito. Só falta disparar a bala e abraçar a felicidade eterna com minha amada. Vou mirar no coração dela e... como? O que essa criança faz sobre a cama abraçada a eles dois? Será...não, não pode ser! O sorriso da criança é igual ao dela. Não! Esse era nosso maior sonho...como ela pôde? Ela me prometera que jamais teria um filho com ele, que assim que se divorciassem nos ficaríamos juntos para sempre. Que eu deixaria de ser amante.
     Ela já não o amava! Porque isso? Essa criança? Eu fui o que? Uma vaidade? Uma simples aventura? Um caso extraconjugal sem qualquer significado? Será que foi tudo um engano? Não, não é justo. Eles não podem ser felizes. Vou por um fim nisso tudo. Todos devem pagar pela minha dor. Não mereço isso. Só preciso puxar o gatilho e...não, minha mão está dormente. Não consigo mexê-la. Não! O veneno! Droga! Partirei sozinho sem que ela sequer saiba? Ó infeliz destino, não me fez digno nem de minha vingança.

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