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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Coração Abandonado

     Certo dia, enquanto caminhava pela vida, encontrei um coração abandonado. Poderia tê-lo ignorado como muitos já haviam feito, mas decidi que cuidaria dele. Pelo estado em que se encontrava, devia estar esquecido ali há muito tempo. Estava em ruínas, com muitas partes avariadas. Palpitava sem forças, e posso dizer que sem motivos. Visivelmente precisava de meus cuidados, e foi o que fiz.
     Comecei com pequenas mudanças, reparos simples. Mas, aos poucos fui dando vida novamente àquele coração. Tirei toda a poeira que havia se acumulado com o tempo. Arranquei as ervas daninha da mágoa e do ódio que haviam se enraizado por todo o lugar. Tirei as teias do abandono. Trouxe luz à escuridão que há muito o dominava. Joguei as desilusões no lixo.

     Pintei aquele coração com minhas cores favoritas. Vesti-o das tonalidades que eu mais gostava. Aos poucos fui redecorando-o com mobílias simples, mas necessárias: felicidade, alegria, carinho, afeto. Mas percebi que ainda faltava alguma coisa, pois mesmo com todo o meu esforço, ele ainda palpitava devagar. Então, dei-lhe o que faltava, trouxe a energia que iria impulsionar o perfeito funcionamento daquele coração: o amor.
     Sim, o que a princípio era apenas uma reforma amigável, com o tempo assumiu outra conotação. Aquele coração ficou tão belo depois de pronto, tão aconchegante, que querer habitá-lo foi inevitável. Afinal, ele tinha tudo aquilo que eu sempre procurei. Então, decidi que faria daquele coração meu doce lar. Instalei-me com a certeza de que aquela seria minha derradeira morada. Jamais sairia dali.
     Mas, infelizmente eu estava enganado. Embora eu tivesse cuidado daquele coração por tanto tempo como se fosse meu, ele não o era. Tive certeza disso quando o proprietário dele veio reclamar a posse. Alegava que eu o havia invadido sem permissão e que devia sair. Vi-me em desespero, afinal, eu havia trazido a vida novamente àquele lugar, se ele estava belo e palpitante agora era por minha causa. Era injusto ser expulso daquela forma.
     Contudo, quando se trata de um coração, não existe a racionalidade da justiça. E acabei por ser despejado. Rapidamente alguém ocupou meu lugar e passou a habitar aquele coração. Senti-me um tolo, ninguém se importava quando ele estava abandonado e sem vida, mas bastou eu cuidar dele que todos passaram a cobiçá-lo.
     Embora magoado, decidi que não ficaria me lamentando. Voltaria para o que sempre me pertenceu: meu coração. Mas, ao me deparar com ele, fiquei desolado. Meu coração estava arruinado, pior até que aquele que há algum tempo eu havia encontrado abandonado. Na ânsia por reparar e cuidar do coração alheio esqueci o meu, que com o passar do tempo foi se deteriorando sem cuidados.
     Agora estou aqui diante dele. Dói ver meu coração neste estado, mas me faltam forças para concertá-lo. Mesmo assim não vou abandoná-lo. Vou me recolher nele do jeito que está e tentar sobreviver. Quem sabe um dia alguém se compadece, assim como eu o fiz uma vez, e resolve concertar meu pobre coração. Assim, quando vier cuidar dele, vai me encontrar e quem sabe cuidará de mim também.


Fonte Imagem: http://img517.imageshack.us/img517/237/almostperfected1280x102am8.jpg

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