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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Imaginário

     Sentado ao bar, ele sacudia o gelo, que se banhava no uísque em seu copo, enquanto os pensamentos corriam através de sua mente. O olhar perdido denotava a reflexão. Permaneceu assim por alguns minutos. Então, voltou seu olhar às mesas espalhadas no salão. Corroborou o que já desconfiava: aquele não era um lugar para solteiros. Casais se olhavam apaixonados em silêncio, ou trocavam palavras e sorrisos. Ele era o único desacompanhado ali, o elemento que quebrava a harmonia. Pensou em ir embora, mas algo o deteve. Uma mulher chegou. Estava sozinha, aparentemente.
     Ele a acompanhou com o olhar até que se sentasse a uma das mesas desocupadas. Aguardou alguns instantes até ter a certeza: ela estava desacompanhada. Sentiu um sorriso querer desenhar-se em seu rosto, mas o conteve. Pediu mais uma dose, desta vez, sem gelo. De repente o lugar havia se tornado interessante. Voltou o olhar na direção da moça. Começava a familiarizar-se de seus traços. Eram agradáveis, harmônicos, atraentes demais. Ela parecia pensativa, tal qual ele estava há poucos minutos.
     Como sabemos, as mentes férteis por vezes se lançam em vôos incontroláveis. Eis o que aconteceu ao nosso rapaz. Observando-a ao longe, conjecturas começaram a ganhar corpo em seu imaginário. Em poucos instantes, ele se indagava sobre os motivos de ela estar ali, igualmente ele, sozinha. Será que aquele olhar que se perdia no horizonte o fazia pela falta de ter no que se fixar? Estaria ela ali em uma tentativa desesperada de mitigar a solidão a qual há muito se atrelara? Aquela bebida seria para ela também um anestésico para a dor de um coração vazio?
     Mais alguns instantes, e as conjecturas tornaram-se certezas. Como também sabemos, a coragem alicerçada na certeza torna-se vigorosa. Aquela situação instigou o rapaz. Seu próximo olhar teria de ir de encontro ao dela. Pediu uma última dose, que viu seu término em um único gole. Reuniu toda a intrepidez que tinha e levantou-se. Alguns passos os separavam. Uma distância ínfima a ser vencida, um silêncio a ser rompido e duas vidas seriam mudadas. Teria fim a solidão de ambos. Aquela noite seria apenas o primeiro passo que dariam.
     Enquanto se aproximava, ele pensava no que diria, mas já podia vê-la sorrindo e convidando-o a sentar-se. Ele sorria, aquela era sua noite. Faltavam poucos passos, quando um homem sentou-se à mesa e beijou a moça. O sorriso desmoronou junto às esperanças. Para disfarçar, ele prosseguiu o trajeto como fosse ao banheiro que ficava do outro lado do salão. Ao passar pela mesa em que ela estava, baixou o olhar. Não queria que ela visse a decepção em seu olhar. Foi então que a ouviu dizer ao homem que sentara à mesa: “Amor, você demorou, me senti tão sozinha em meio a tantas pessoas acompanhadas. Felizmente eu não era a única, havia um homem no bar que também devia estar esperando alguém.”
     Após ouvir isso ele mudou o caminho. Seguiu direto para a saída. De fato estava ali esperando alguém, como sempre. Alguém que jamais veio. Estava sozinho uma vez mais com seus pensamentos. Talvez fosse seu destino tê-los por única companhia afinal.

Um comentário:

  1. Repetitivo. Esse sou eu, elogiando a tua capacidade incrível de sempre surpreender. Sou aprendiz, Seu Menino! Sou aprendiz.

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