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segunda-feira, 4 de julho de 2011

Sincero

     Ontem, depois de alguns meses, enfim te encontrei. Foi algo casual, inesperado. Tanto que notei que sua fisionomia mudou quando teus olhos, que percorriam a multidão ao seu redor, pararam exatamente nos meus. Quisestes esboçar um breve sorriso, mas teu orgulho não o permitiu. Mantivestes-te séria, aguardando até que eu fosse ao seu encontro. Mas a cada passo que eu dava, sentia que teu coração palpitava com mais forças.
     Parei diante de ti. Passamos um tempo nos olhando até que alguém ousasse quebrar o silêncio. Nesse curto intervalo emudecido, eu tentava imaginar o que estarias pensando naquele momento, e sei que fazias o mesmo. Entretanto, mais uma vez teu orgulho te despertou: aquele “oi” característico me avisou que era hora de usar de minhas palavras. O diálogo em silêncio havia acabado.
     Bastou uma pergunta e principiastes teu interminável monólogo. Embora eu só quisesse saber se estavas bem, fizestes questão de me relatar tudo o que tinha acontecido em tua vida nos últimos meses. Aliás, tudo não, somente as partes que lhe convinham, aquelas que causariam a impressão que sua vida estava bem melhor sem mim. Mesmo porque, teu orgulho não te deixaria reconhecer que sentistes saudades de nossos momentos.
     Mas, confesso que eu não dei muita atenção ao que me falavas. Silenciosamente, comecei a observar-te. E, acredite, pude ver tantas coisas que nunca havia reparado. Tantas que ao final me surpreendi. Era como se o tempo que passamos juntos não existisse. Aos meus olhos parecia agora uma desconhecida. Já não via em ti aquela mulher que um dia fizera esquecer-me do mundo com um simples toque de lábios.
     Tua voz já não era aquela veludosa melodia doce de outrora. Teu sorriso já não tinha aquele brilho radiante que me conquistava. Teus lábios, teus olhos... teu rosto, já não eras a ninfa que há muito me enfeitiçara com seus encantos. Era como se estivesse diante de uma estranha que um dia conheci. Confesso que isso me assustou. Demorei a entender o porquê de tamanho desencanto. Eras a mulher de minha vida há alguns meses atrás, e hoje eras tão comum.
     Embora parecesse impossível, enfim pude entender o que havia acontecido: o tempo havia passado para nós. E eu não tinha me dado conta de quanto poder ele possui. Éramos perfeitos, não para o mundo, mas um para o outro. Porém, o tempo detém a incrível habilidade de destruir tudo que é perfeito. E, como se fosse um castelo que aos poucos se deteriora, a perfeição subjetiva que um dia fostes para mim, estava em ruínas. Teus defeitos já me saltavam aos olhos.
     Entretanto, preciso ser sincero, isso não foi o pior para mim. O pior é estar aqui, diante de ti, dizendo-te todas estas palavras e querendo, com todas as minhas forças, acreditar nelas. Esforçando-me para crer que realmente não és a mulher que amo, que não és mais perfeita, que não preciso de ti. Tentando a todo custo conter meus lábios que insistem em querer os teus e que querem tanto te dizer a única coisa em que realmente acredito: eu te amo.

Fonte Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhl-UqrTdIQgCqUNuMZJdYUREeTOyO-MgqVWthrX180k38pB9avWbFv9VfYC4vuuMqmxmkFeUKFUmHhAlbqpYzbT_9FJUZ8ej5oiROETjrPP4OFC7arj_0PqiEP5RVKKxYiUYSq90koV2A/s400/namorados.jpg

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