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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Guerreiro

     A cruel tirania paterna intentou afastar-nos. Criou duras barreiras para impedir-nos de concretizar este amor. Mas não há fronteiras capazes de conter o vigor hercúleo de nosso sentimento. Cá estamos para provar que nem distâncias, nem as paredes pedregosas de um castelo podem apartar-nos. Pois o que cultivamos, não pode se perder. O mundo dos homens com sua efemeridade egoísta não nos privaria de gozar a merecida eternidade.
     O doce prazer de agora olhar em teus olhos e beijar-te os delicados lábios tornam ínfimos os sacrifícios e querelas que travei para ter-te comigo novamente. Desafios homéricos quiseram me dissuadir de lutar por este momento. Mas minha bravura e a recordação de tuas últimas palavras me deram a perícia necessária para vencer os hábeis, a valentia para derrotar os fortes, a coragem para superar os temores.
     Entretanto, confesso que contei com algo mais. Talvez por sorte, ou por obra da Providência, que atendeu tuas preces. Só sei que nem mesmo o bravo Ulisses teve uma odisséia tão árdua quanto a minha. E mesmo o amor deste pela doce Penélope, se mostra pequeno ante o que agora transborda meu peito em palavras para louvar este magnificência deste momento.
     Neste momento, exércitos rumam até nós para resgatar a jóia que ousei surrupiar. Comandados por teu pai e teu noivo, milhares marcham enfurecidos, sedentos por sangue, o meu sangue. Anseiam ceifar a vida do insolente que ousou querer para si a casta princesa, futura senhora de dois reinos. Se soubessem o que me motiva, entenderiam que nem a mais violenta morte seria capaz de nos impedir.
     Não há fúria neste mundo, e em nem um outro, que seja capaz de sufocar-nos o desejo. Descobri o motivo de minha existência quando posei os olhos em tua doce figura. Nosso amor é tido como impossível pelos que se atém à hierarquia racional e injusta dos homens. Mas, provar-lhe-ei que não há barreiras para conter-nos, pois quando te beijo, sinto que somos iguais, que só existe um reino: o teu corpo, onde quero reinar absoluto.
     Pois nossos destinos já seguem por um caminho sem volta. Enganá-lo-emos com nossa audaz manobra. De nada adiantarão os milhares, já que nosso amor alcançará a eternidade. Colheremos os frutos de nosso devaneio sem que nada nos possa impedir. Aqueles que marcham sequer imaginam que sua cruzada será vã. Pois um beijo com lábios embebidos em veneno provar-lhes-á que de nada valem o aço de suas espadas contra a vontade obstinada de nossos corações.
     Creio que já deves estar farta de palavras. Então vamos apenas aguardar até que sejamos chamados ao sono eterno. Convido-te, amada minha, a contemplar a suave dança das nuvens que se entrelaçam umas às outras sem pudor. Nuvens veludosas onde caminharemos com os pés descalços, vendo de perto o sol nascer e se pôr, tendo a certeza de que isso jamais terá fim. Por teu amor me fiz guerreiro, lutei e lutaria quanto mais fosse necessário, sem me importar, pois minha vida seria vã se tivesse que a viver sem ti.


Fonte Imagem: http://www.rtve.es/resources/jpg/4/4/1256658929844.jpg

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