Páginas

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Amor de Margarina

     Grande era a dúvida que me consumia, quando quis o amor me achar. Diante de mim, inúmeras opções, era preciso ponderar sobre qual a melhor delas. Afinal, a matéria era de suma importância: qual marca de margarina escolher? Após alguns minutos, já havia descartado grande parte das pretendentes. Restavam apenas três. Mas minha dúvida se dava entre duas. A terceira eu desconsiderava, já que era a margarina do comercial do casal feliz. Sim, aquele comercial que mostrava um casal bonito tomando café da manhã. O comercial que mostrava uma felicidade que parecia não ser feita pra gente como eu. Daí minha revolta com o produto.
     Após alguns minutos, a ponderação havia acabado: escolhi a margarina de sempre, que prometia entupir mais minhas artérias. Margarina de gente sozinha, que não tem com o que se preocupar. Estiquei o braço para apanhar um pote da vencedora. Eis que uma voz quebrou o silêncio: “Poderia pegar uma pra mim também?”. Olhei para o lado tentando identificar a dona da voz. Deparei-me com um anjo. Tão linda era ela, que congelei, com o braço esticado. Ela insistiu: “Pode ser dessa que você ia pegar”, disse com um sorriso simpático. Retomei o movimento, apanhei o pote de margarina e entreguei a ela. “Obrigada”, respondeu sorrindo novamente. E permaneceu ao meu lado, olhando para a prateleira.
     Estiquei o braço novamente para pegar um pote para mim. Contudo, meu pensamento me tomou e parei, uma vez mais, com o braço esticado. Imediatamente, me veio à mente tudo o que eu já ouvira falar sobre ‘amor a primeira vista’. Eu, que sempre fui cético com essas coisas, de repente, começava a ver sentido. Aquele sorriso diante de mim, talvez fosse um convite. Ela ainda permanecia ao meu lado. Talvez estivesse esperando que eu tomasse a iniciativa. O encanto que ela causara em mim havia sido diferente. Talvez fosse mesmo amor a primeira vista. Outro indício: ela escolhera a margarina de gente sozinha. Talvez tivesse ela uma vida como a minha. Talvez quisesse também libertar-se da solidão.
     Havia indícios demais. Ela ainda permanecia ao meu lado. Tentava parecer distraída, olhando para a prateleira. Talvez estivesse realmente me esperando. Era preciso arriscar, tomar uma atitude, não podia desperdiçar aquela oportunidade. Que aquele fosse o primeiro dia do resto de nossas vidas, então. Retomei o movimento, mas em direção a outro pote: o da margarina do casal feliz. Chega de margarina de gente sozinha! Nossas vidas iriam mudar. Seríamos felizes, como o casal do comercial. Apanhei o pote e respirei fundo. Voltei-me a ela para dizer algo. Porém, não tive a oportunidade. Abri a boca, mas fui calado por uma voz grave que dizia: “Amor, essa margarina não. Pega aquela outra. Igual a essa que esse cara tem nas mãos.”
     Ela olhou para mim. Em um gesto silencioso, simplesmente entreguei a ela o pote que tinha em minhas mãos e peguei o dela para mim. Em seguida, ela foi embora, levando a margarina do casal feliz, enquanto eu fiquei com a de sempre, de gente sozinha. Não preciso dizer o quão doloso foi, para mim, amá-la e depois perdê-la. Talvez eu fosse feito para a solidão mesmo. Aquele não foi o primeiro amor a dar errado. Na verdade, era apenas mais um exemplar para minha coleção de fracassos. Um exemplar exótico é bem verdade. Mas, que me machucou tanto quanto os outros. Talvez até mais.
     Contudo, era preciso ser forte. Era preciso sair dali, chegar a casa e me isolar do mundo, a fim de me recuperar. Segui então minha Via Crúcis em direção à saída. A cada passo, sentia os pedaços daquele sonho caindo ao chão. Tentava me convencer de que talvez fosse melhor seguir sozinho. Aguardei algum tempo na fila até chegar ao caixa. Cabisbaixo, pus meu pote de margarina e os outros produtos sobre o caixa. Apanhei minha carteira e ia tirar o dinheiro. Mas uma voz doce rompeu o silêncio: “Dinheiro ou cartão, senhor?”, indagou-me.
     Voltei meu olhar na direção em que veio a voz. Deparei-me com um anjo sorridente. Tão linda era ela, que me fez pensar em ‘amor a primeira vista’. Logo eu, que sempre fui cético com relação a isso. Mas, e se aquele sorriso fosse um convite. Quem sabe, uma oportunidade de deixar aquela vida de solidão. Eu não podia perder aquela oportunidade. Puxei a carteira disposto a apostar minhas fichas naquele novo amor. Mas, antes, pus a margarina de gente sozinha de volta na cesta. Dessa vez daria certo, seríamos felizes como o casal do comercial de margarina. É bem verdade, que meu coração ainda sofria pela desilusão de dez minutos atrás. Mas, é como dizem: nada melhor que um novo amor para nos fazer esquecer uma desilusão do passado.          




Fonte imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEji4_Dvh7mmyaE84bQUxx8pPWAR2QLCTQLzZLeQIOholH3imAAlWTVim9Q3y9MVtU31iy1W4ANdYODx1Im-REewN6rap38FSn5TsLUm2KgWBQSkyjWLno79s0bdZ9nYJpHVXVZP3gS6dFM/s400/doriana.jpg

3 comentários:

  1. Dorei Robsinho, achei divertido!

    Sua admiradora secreta

    Dica: Não se atrase.

    ResponderExcluir
  2. gostaria de saber qual o nome dessa margarina da propaganda

    ResponderExcluir
  3. achei a propaganda é da doriana extra cremosa o amor é lindo

    ResponderExcluir

Se você gostou do texto acima, fique a vontade para comentar. Críticas, elogios ou sugestões serão sempre aceitos. Se acaso achares que o blog merece, siga-o.
Obrigado. R.H.