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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Realista

     Teus olhos brilharam e isso me enfraqueceu. Era algo novo, desconhecido para mim. Havia emoção em ti, diria que talvez paixão. Minhas palavras fugiram de mim neste instante. Então me abraçastes e teu corpo quente se encaixou tão bem ao meu. Isto contrariou o que para mim era costumeiro. Queria sair dali, mas meu corpo não me obedecia. Então ele deu o último imperativo: meus olhos se fecharam e em teus braços adormeci.
     Foi a melhor noite de sono que tive em muito tempo. Acordei sem saber ao certo onde estava, nem porque aquele sorriso estava em meu rosto. Onde estava o meu mau humor matinal? Que lençóis macios eram aqueles? De quem seria aquele quarto aconchegante? Onde quer que eu esteja uma coisa me veio à mente: quebrei as regras. Na verdade, seria “a regra”. Uma norma pessoal que me mantivera solteiro até então.
     Qual seria essa norma? Bem... acho que já ultrapassamos aquele estágio em que eu deveria ter vergonha de falar sobre mim não é? Pois bem, te direi. Eu jamais dormia em outra cama que não fosse a minha. Não importa onde minha noite começasse, eu saberia que ela acabaria em meu quarto. Seria o momento em que eu encararia o espelho, às vezes orgulhoso por mais uma noite de sexo casual satisfatório; talvez indignado, sentindo o vazio inerente a esse tipo de relacionamento.
     Seja como for, eu sempre acordava da mesma forma: mal humorado, porém disposto para seguir a rotina. E assim minha vida seguiria, não fosse aquela noite de maio em que te conheci. Serias apenas mais uma. Mais uma noite de sexo sem compromisso, sem significado. Contudo, me surpreendestes. Em tudo. E o quando teus olhos brilharam tudo teve sentido. Não era aquele brilho de prazer orgástico que eu costumava ver em outros olhos. Havia verdade, havia desejo, havia algo que eu desconhecia. Não bastasse isso, todos os teus gestos me surpreenderam. Teu abraço carinhoso. A forma como teu corpo pedia ao meu para que ficasse.
     Tive a certeza de que nada era como antes no momento em que você apareceu à porta trazendo o café da manhã. Imaginei estar sonhando. Mas, era real. Tive certeza disso quando fizemos amor uma vez mais. Não preciso dizer que meu dia estava sendo totalmente diferente do habitual. Isso me fez sentir ótimo. E eu queria mais. E mesmo passando a semana inteira contigo, eu julguei ser pouco. É como se na tua ausência o tempo não passasse. E após a noite passada eu tive a certeza.
     Sei que talvez isso soe estranho, mas não quero te assustar. Sinto algo por ti que não consigo definir. Apenas sei que quero estar contigo enquanto eu viver. Quero ver o brilho dos teus olhos até o fim de meus dias. Quero o teu abraço perfeito. Quero adormecer e acordar sabendo que isso tudo é real. Quero casar com você. Você quer casar comigo?
     Ela não respondeu. Apanhou o celular que estava sobre a cama entre os dois e pareceu digitar alguma coisa.
     Aflito, ele insistiu. “Quer casar comigo? Sim ou não?”
    Ela pediu que ele aguardasse um instante. Em seguida respondeu:
     “De fato, suas palavras me soaram verdadeiras. Posso dizer que os momentos que estivemos juntos foram ótimos. Como já haviam me dito, és um excelente amante.”
 
     Ele pareceu não entender as últimas palavras. - “Como assim? Quem lhe disse o que?”
    “É... neste momento preciso ser bastante sincera com você. Você saiu com algumas das minhas amigas e, há mais ou menos um mês, uma delas ficou bastante triste após ter sido usada por você. Elas diziam que você merecia uma lição. Mas, te julgavam à prova de tudo. Foi então que, ao questioná-las, me desafiaram. Na verdade fizemos uma aposta. Eu deveria conseguir manter um relacionamento com você por mais que uma noite. Provar que você poderia se envolver. Mas, acabou sendo melhor do que eu esperava.”
     Ele apenas a observava boquiaberto sem acreditar.
     Ela continuou:
     “Acabei de enviar para as minhas amigas, a gravação de tudo o que você me disse agora, assim como o pedido de casamento. Imagino o quanto elas devem estar se divertindo agora ao escutarem que você caiu tão bem em um orgasmo fingido. Deve ser doloroso para você ouvir isso. Mas, é a vida, o que se pode fazer?”
     Realmente, não havia nada a ser feito. Ele apenas se levantou em silêncio. Olhou-a nos olhos novamente. Os olhos dela ainda brilhavam, mas não como antes. Agora eles não apaixonavam, ofendiam, ironizavam. Ele vestiu suas roupas saiu sem dizer nada. Mesmo porque, o que poderia ser dito?

Fonte Imagem: http://www.abril.com.br/imagem/relacionamento-segredo-05g.jpg

Um comentário:

  1. Éguaa Robson..
    Tavaa com saudade de ler aqui, tinha um tempinho que eu não visitava teu blog..
    Como sempre gostei muito do novo visual..
    E você sempre me deixando satisfeita com o desfecho das tuas estórias.
    Beijinhos..Saudades de tu moço *-*

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