Páginas

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Beija-flor e a Borboleta

     Caros leitores, eis minha primeira tentativa de escrever algo que se assemelhe a uma fábula. Portanto, conto com vocês para manifestarem sua opinião quanto ao texto. Aos que desejarem, comentem e digam o que acharam. Desde já grato.


                                                                                    Robson Heleno






         O Beija-flor e a Borboleta


    Os raios de sol reluziam sobre as pétalas orvalhadas das flores, refletindo diferentes cores, acentuando-lhes o brilho. Eram rosas, violetas, margaridas, uma infinidade de flores que coexistiam em harmonia. Orgulhosas por suas belezas, sentiam prazer em deixar seus doces perfumes no ar, os quais o vento carregava com prazer até o olfato daqueles que passavam por perto daquele santuário sutil da natureza.
     Em meio a tal cenário, um elemento se destacava: um beija-flor, que permanecia estático no ar com seu bater de asas ininterrupto. Tinha o olhar fixo no horizonte, parecia até ignorar a beleza a sua volta. Mas não era sem motivo. O jovem colibri contemplava, extasiado, o vôo de uma borboleta. Enquanto ela ia de flor em flor, ele a seguia com o olhar. Seus olhos brilhavam, ele suspirava apaixonado.
     Tudo havia começado há poucas manhãs. Ele voava solitário por entre as flores, quando notou a presença da desconhecida. A princípio o beija-flor revoltou-se: como ela ousava entrar em seu jardim sem permissão? Porém, a ira logo se dissipou. Aquela intrusa possuía uma beleza jamais vista pela inocente ave. Voava graciosa, sutil, como se acariciasse o vento com seu leve bater de asas. Diante de um ser tão diferente, o encanto surgiu de imediato. Como não admirá-la?
     Passada a primeira impressão, o beija-flor pensou em dar-lhe as boas vindas. Entretanto, a timidez não o permitia. Inseguro, ele se julgava deveras inferior à borboleta. Suas cores não eram belas como as dela, seu vôo acelerado em nada se comparava à suave valsa que ela dançava com o vento enquanto se deslocava pelo ar. Por fim concluiu que dirigir-lhe a palavra poderia parecer ofendê-la, seria insolência de sua parte.
     Mesmo assim, o contato entre os dois era inevitável, afinal, partilhavam do mesmo jardim. Não raro se cruzavam enquanto voavam por entre as flores. Ele a olhava, mas sempre que ela o correspondia, dava um jeito de desviar o olhar rapidamente. Por vezes ele se escondia por trás de alguma flor só para olhá-la mais de perto. Sempre havia alguma beleza nova a ser descoberta. À distância ele a amava.
     A cada manhã, ele prometia a si mesmo que venceria seu medo e se aproximaria dela. Não sabia ao certo o que faria, mas se conseguisse lhe dirigir a palavra já estaria satisfeito. Se ela lhe respondesse então, seria um sonho realizado. Porém, ele nunca cumpria sua promessa e adiava para o outro dia sua aproximação. “Amanhã eu a conhecerei, ela vai gostar de mim e voaremos lado a lado por esse jardim, mostrando às flores que não há nada mais belo que nosso amor”, dizia para si.
     O colibri não sabia, mas a graciosa borboleta detinha sentimentos semelhantes por ele. Na verdade, ela o amava antes mesmo de ele a haver visto. Ela havia acabado de sair do casulo, preparada para a derradeira etapa de sua vida, quando o viu cortar o ar rapidamente e parar para beijar uma rosa. Ele foi a primeira imagem que ela avistou. Acabou por segui-lo, e descobriu que ele vivia naquele jardim. Decidiu que ficaria ali. Cedo ou tarde eles se aproximariam e ali escreveriam sua história de amor.
     E os dias se passavam e nada mudava. O beija-flor seguia esperançoso, desafiando a si mesmo, diariamente, na tentativa de se aproximar. Enquanto isso a borboleta já não sabia o que fazer, voava perto dele, olhava em seus olhos, mas não era correspondida. Sentia-se rejeitada. Por vezes pensou em aproximar-se do colibri, mas o recato não lhe permitia tal ousadia. Era preciso esperar, cedo ou tarde ele a notaria. E nessa eterna aflição sucediam-se as manhãs.
     Eis que um dia tudo mudaria. O beija-flor, cansado de amar em silêncio, decidiu que acabaria com o sofrimento. Estava disposto a se aproximar da borboleta e dizer-lhe o que sentia. Não se importava que o que aconteceria depois disso, apenas queria ser ouvido. E, assim, preparou-se para encontrá-la. Esperou-a ansioso no jardim, mas ela não apareceu. Imaginou que ela o havia abandonado. Mas não desistiria tão facilmente. Iria encontrá-la, mesmo que para isso precisasse abandonar seu jardim.
     Então, despediu-se de suas flores e preparou-se para partir. Porém, antes que deixasse o jardim ele teve uma surpresa: ao pé de uma árvore avistou-a deitada, quase imóvel, a não ser pela respiração fraca. Ele se aproximou depressa e pousou ao lado dela. Percebeu que a pobre borboleta estava morrendo. Aqueles eram seus últimos suspiros. Utilizando as poucas forças que lhe restavam, ela olhou-o nos olhos.
     Ele diria o que sentia, mas ela o conteve. Queria apenas que ele a ouvisse. Então lhe disse fracamente: “Perdoa-me, mas tenho que partir. Infelizmente não disponho de tantos dias quanto você. Dói-me saber que não o verei por mais uma manhã. Mas alegro-me porque estás aqui. Sei que é tarde, mas saibas que te amo.”. Ao término da última palavra a vida abandonou-a.
     Incrédulo, o pobre beija-flor amaldiçoava o destino, que matou sua felicidade antes que ela pudesse alçar seu primeiro vôo. Sentia ódio de si próprio por não ter não ter dito o que sentia, enquanto podia. Uma vez mais estava solitário em seu jardim. Mas este não era mais como antes. As flores já não tinham cor, seu perfume se esvaíra e até o sol já não brilhava como antes. Desiludido, o beija-flor partiu em um vôo sem fim e jamais foi visto. Depois de algum tempo, outros colibris vieram viver no jardim. E as flores contavam como testemunhas fiéis, a triste fábula do beija-flor e a borboleta.

Fonte Imgem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNHGHc_4TLeg7aoUS-sHRoBGDYeoGx5oEknAjTtURiLQ1eeLb4PgcvQcF49U5r5rtGMfHEA0vMT6vhIOaccXubYeqHvlWAEF5bY_jZq0-Y93ySDaJ3ilgjIwXY9Xa7Pyz-hTbcYfqNLg/s1600/Beija-flor.jpg

2 comentários:

  1. Meu Deus! Nem as borboletas se livram do teu instinto sanguinário!!! Acho que já sei quem matou a Norma e o Salomão Hayalla! hehehe

    Belo texto. Belo texto.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, adorei. Está perfeito! parabéns meu querido. Beijos

    ResponderExcluir

Se você gostou do texto acima, fique a vontade para comentar. Críticas, elogios ou sugestões serão sempre aceitos. Se acaso achares que o blog merece, siga-o.
Obrigado. R.H.