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terça-feira, 21 de junho de 2011

Amor Idealizado

     Ela olhava pela janela enquanto seu pensamento passeava pelas ruas que passavam. Então ele entrou. Os olhos da jovem moça brilharam, o coração sofreu uma súbita alteração, denotando que não era a primeira vez que ela o via. Realmente, há exatos três meses eles pegavam o mesmo ônibus. O encanto repentino de um primeiro olhar transformara-se em uma paixão adolescente com o passar do tempo. Ela o olhava, admirava, desejava, sonhava. Mas, infeliz, jamais havia sido correspondida.
     A pobre moça passava o trajeto inteiro idealizando como deveria ser a personalidade do desconhecido. Em seu íntimo o via como um rapaz educado, capaz de encantar com seus modos. O romantismo também estava entre seus atributos, bem como a sensibilidade e a simpatia. Ele a faria sorrir com seu jeito extrovertido e estaria sempre presente em momentos difíceis. Por mais que não o conhecesse, ela sabia que ele era assim.

     Durante todo o esse tempo, mesmo se vendo todos os dias, ele jamais havia sequer sentado ao lado dela. Não por falta de esforços, porque a moça se esforçava para manter sempre o assento ao lado vago, mas ele sempre sentava mais a frente, ou então mais atrás. Nunca ocupava o lugar que lhe era destinado por direito. Pior que isso, ele sequer notava a presença da moça. Exceto em um dia em que ele estava de óculos escuros, e ela teve certeza de que ele a observava discretamente.
     Mas, hoje tudo seria diferente. Ele entrou no ônibus e procurou um lugar para sentar. Até que então seus olhos pararam no olhar da jovem moça. Ele então caminhou e sentou ao lado dela. Não havia como esconder a alegria, ele não só a havia olhado nos olhos, como enfim havia ocupado o lugar que ela há muito guardava. Regozijando-se com tal fato, a moça sequer reparara que ele havia sentado ali simplesmente porque todos os demais assentos estavam ocupados.
     Ela tentava disfarçar olhando para os lados, mas vez ou outra lançava um olhar sorrateiro para o rapaz. Ele sequer percebia isso, parecia mais interessado em observar o caminho. A moça parecia realizada, o simples fato de compartilhar aquele tão sonhado momento já lhe era suficiente. Mas ainda assim, fantasiava uma possível aproximação por parte dele, um sorriso, qualquer sinal que demonstrasse reciprocidade.
     Eis que então o rapaz volta-se em direção à moça. Olha em seus olhos e pergunta as horas. Ela não consegue acreditar: ele falou comigo! É como se aquilo a tivesse paralisado por completo. O rapaz coça a cabeça e tenta entender porque ela não responde. Ela gagueja, por fim consegue lhe dizer o horário com a face enrubescida pela timidez. O rapaz agradece e volta a olhar para o caminho. Ela não consegue acreditar, é o dia mais feliz de sua vida. Em seu pensar, aquilo foi apenas um começo, uma prova de que é correspondida.
     Seus mais íntimos sonhos começam a ganhar vida. Ela já vislumbra um futuro ao lado daquele que está ao seu lado sem sequer imaginar o que se passa naquela mente jovial. Porém, o celular do rapaz toca despertando-a dos devaneios. Ele o atende e ela fica escutando tudo o que ele fala. A conversa é breve, porém o ponto crítico é o final, quando ele diz: “Tchau amor, te amo”. Aquelas derradeiras palavras deixam a jovem estática. Ela parece questionar se foi aquilo mesmo que ouviu.
     O jovem se levanta, a porta se abre e ele desce do ônibus. Parte deixando para trás a pobre moça que, sentada em seu assento, não consegue conter a lágrima que lhe corre à face. Está desiludida, coração estilhaçado. “Como ele pode?”, ela se pergunta. Fora cruelmente traída por aquele a quem durante meses devotou seus pensamentos. Em um único dia ele se aproximou, deu esperanças de um futuro, e depois a abandonou com o coração em pedaços.
     Nossa jovem adolescente jamais será a mesma. O rapaz não faz idéia, mas acaba de deixar para trás uma mulher desiludida que jamais confiará novamente nos homens. Daquelas que dirá em conversas com as amigas coisas do tipo, “os homens são todos iguais”. Ele não imagina, mas é o culpado por ter traído a pureza de um amor idealizado por uma jovem adolescente. E tudo porque ousou ocupar o único lugar vazio no ônibus e perguntou as horas à pessoa que estava ao seu lado. Quem diria? 



Fonte Imagem: http://lh5.ggpht.com/Encantosepoesias/SADeZMIUNLI/AAAAAAAAAXA/nbGvZGPenWc/V1.jpg?imgmax=512

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