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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A união

Após alguns passos apressados, sentaram-se os dois nos degraus de uma escada. Ela parecia tranquila. Ele, apressado em resolver logo as coisas, começou:

- E então? O que você quer falar comigo?

- Calma. Estou com fome. Vou falar enquanto como.

- Tudo bem, mas seja rápida. Temos pouco tempo.

- Fique tranquilo. – Disse enquanto desembrulhava um sanduíche que trouxera envolto em um lenço de papel. Após parti-lo ao meio, prosseguiu. –Aqui, essa metade é sua.

- Mas eu não estou com fome.

- Eu sei. Mas, pegue mesmo assim. Vai ajudar a entender o que eu quero te dizer.

Ele apanhou o pedaço sem entender ao certo. Diria alguma coisa, mas deixou o olhar se fixar em um ponto a sua frente e ficou em silêncio. Ela prosseguiu:

- Pois bem. Está vendo esse pedaço de sanduíche que eu acabo de lhe entregar?

- Aham. – Respondeu ele sem sequer piscar os olhos.

- Ele representa a nossa união. Minha mãe me disse que quando as pessoas se unem, elas passam a compartilhar tudo o que têm. Já que você é meu namorado, eu tenho que dividir com você. Entendeu?

- Aham.

- Pois é. Mas não é só isso. Se eu tenho que dividir o que é meu com você, você também tem que dividir o que é seu comigo. Entende?

- Aham.

- Você está prestando atenção no que eu estou dizendo?

- Aham. – Repetiu, dessa vez com um leve aceno de cabeça, para reforçar a resposta.

- Tudo bem. Minha mãe me explicou que uma mulher inteligente deve saber o que quer. Eu sou inteligente. Então, quero te dizer que, de agora em diante, tudo o que é seu também será meu. Porque isso faz parte da nossa união.

- Aham.

- Isso significa que metade da sua mesada será minha. E, no futuro, quando casarmos, você também terá que dividir seu salário comigo.

- Aham.

- Enfim, só queria deixar as coisas esclarecidas agora que estamos namorando. Minha mãe me disse que isso é muito importante. Fico feliz que você tenha entendido tudo.

- Aham. É só isso? – Perguntou a ponto de se levantar.

- Sim. Agora pode ir. E, já que não quer esse pedaço de pão, pode me devolver.


Ele largou o pedaço de sanduíche e partiu em disparada para o outro lado do pátio, onde os outros garotos estavam jogando futebol. Desde o início, sua atenção estivera naquele jogo. Em momento algum, ele deu atenção a qualquer palavra que ela disse, só queria que ela acabasse antes do fim do recreio, para que ele pudesse jogar. Ela sabia disso, mas pouco se importava, desde que ele seguisse concordando com o que era dito. Ambos tinham apenas 10 anos. Mas, acredite, nesse aspecto, entre eles, nada mudaria com o passar dos anos.


Fonte imagem: http://gabrielpriolli.com.br/site/wp-content/uploads/2013/09/DSC05798.jpg

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