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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sonho

   Certa vez me achei em um lugar desconhecido. Era belo, bem mais que os demais. A paisagem era um deleite ao meu olhar: um vasto campo coberto pela verde relva ornado aqui e ali por árvores marchetadas de frutas, que eram como ornatos coloridos contrastantes ao céu límpido acima, manchado em alguns pontos por pequenas nuvens. A suave canção regida pelos pássaros acarinhava-me os ouvidos. O sol luzia majestoso, mas não me aquecia de todo. Era como se ele beijasse o meu rosto enquanto a brisa o afagava.
     Diante de tantas belezas, não me contive, me pus a explorar aqueles campos idílicos. A cada passo, sentia-me leve, como se a liberdade por fim fosse real, não a mera abstração da qual sempre ouvi falar. Cheguei, por fim, a um vale onde um rio convertia-se em cachoeira. Detive-me por alguns instantes contemplando o espetáculo que a luz criava ao atingir as gotículas de água que passeavam pelo ar. Ficaria o dia inteiro naquela hipnose maravilhosa.
     Contudo, ouvi uma voz macia, feminina, chamar meu nome. Procurei curioso, pela fonte daquele chamado, mas nada vi. Repentinamente, a cachoeira já não era mais atraente, descobrir a dona daquela voz tornou-se minha vontade. Segui através das margens do rio ignorando os peixes que saltavam intentando furtar minha atenção. Caminhei alguns minutos para enfim encontrá-la sentada sob uma árvore. Parecia me esperar. Acompanhou-me com o olhar enquanto eu me aproximava.
     Contive os passos diante dela, esperando por alguma palavra. Mas ela nada disse. A ousadia me impeliu a sentar ao seu lado. Por alguns segundos ela olhou em meus olhos. Por fim sorriu. Pegou em minhas mãos e, sem nada dizer, convidou-me a segui-la. Corremos através dos campos. Meu fôlego parecia infinito, tive certeza disso quando chegamos onde ela desejava. Estávamos em um lugar alto, uma espécie de montanha, de onde eu podia ter mais bela das visões. O sol já se punha no horizonte. Assumia agora uma tonalidade avermelhada tão sedutora ao meu olhar.
     Entretanto, ela não me levara ali para ver o sol se pôr. A moça então chamou meu nome uma vez mais. Olhei em sua direção e lá estava ela, mais linda que antes, tendo o vermelho do sol refletido no brilho de seu olhar. Porém, não estava sozinha. Ao seu lado, estavam todas as pessoas que amei em minha vida: meus pais, familiares, amigos; pessoas que há muito eu não via; pessoas que há muito eu havia perdido. A única desconhecida ali era a moça.
     Naquele momento a verdade por fim veio a mim. Aquilo não era real. Estava imerso em mais um daqueles sonhos que vêm para nos trazer à mente as lembranças que se perdiam na memória; que parecem ter por fim renovar nossas forças para prosseguir. A moça, percebendo que eu sabia que tudo aquilo era fantasia, abraçou-me com força, beijou-me e disse: “Por favor, fique, esse é o mundo que mereces. Aqui não há dor, tristeza ou solidão.”
     Despertei repentinamente em meu quarto. Ainda sonolento, abri os olhos. Deparei-me com as paredes sujas a minha volta, o barulho dos carros que corriam lá fora, o cheiro incômodo da fumaça que atravessava a janela entreaberta, o calor que me fazia suar. Poderia ter levantado para enfrentar mais um dia, mas decidi voltar a dormir. A moça estava certa, sonhar era melhor. Não que me faltasse coragem para encarar a vida real. Apenas percebi que, quando a realidade se mostra difícil, o melhor a fazer é se apegar aos sonhos, pois somente eles nos levam a mundos perfeitos.  

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