Sob o pratear da lua, eu destilava olhares e
cantadas medíocres à jovem sentada à mesa junto a mim. Seu nome era Inês, e
detinha de todo o meu olhar. Personalidade forte, respondia as minhas perguntas
com a indiferença de quem apenas deixava o tempo passar. Cansado de meu quase
monólogo, incitei-a a fazer perguntas sobre mim. “Quantos anos você tem?”,
perguntou, após longo silêncio, olhando-me nos olhos pela primeira vez na
noite. Embora desejasse mentir, fui sincero: “Tenho quarenta anos”.
Ela ficou em silêncio.
“Até quantos pretendes viver?”, foi a resposta que dela obtive. A pergunta
pareceu-me estranha, incomum demais. Preferi descontrair: “Sei lá, até uns cem,
eu acho”. Recebi outro olhar, de interesse agora. Em minha ingenuidade, jamais
poderia imaginar o quão decisivas aquelas perguntas eram. Minhas respostas
forneceram os dados que ela necessitava. Palavras que tomaram as rédeas da
noite, que, ao contrário do que eu ousei imaginar, não seria tão longa.
“Faltam cinco minutos
para meia noite, já é tarde”. Disse ela e, em seguida, chamou o garçom. Pediu a
conta e levantou-se da mesa. Sem entender, perguntei se havia dito algo de
errado. Ela sorriu: “Não. Apenas acho que devemos conversar em um lugar mais
reservado. Sua casa, talvez”. Surpreso, apenas assenti com a cabeça e sorri por
dentro. Fiz questão de pagar a conta, e me desfiz em galanteios no caminho até
meu apartamento. Ela parecia indiferente a tudo, mas me dardejava olhares
encorajadores.
Quando no elevador,
tentei beijá-la. Mas, ela me repeliu. Queria deixar claro que era a dona da
situação. Sem ter mais o que fazer, fui paciente. Ao chegar, deixei-a e entrar
primeiro. Ao acender as luzes, o cetim do vestido brilhou ao chão: completamente
nua, ela me observava. Pensei, naquele instante, saber perfeitamente quais eram
as intenções daquela estranha. Uma vez mais, fui ingênuo. A nudez expõe, mas
não revela. Não revela pensamentos, intenções. Quando aprendi isso, já era tarde demais.
Ao vê-la daquela forma,
despida, exposta, tive a conhecida sensação de domínio. Arranquei minhas roupas
e, voraz, fui ao encontro daquelas curvas. Avancei com força e caímos, entre
beijos e carícias, sobre sofá. Deixei o corpo falar por mim, cedi ao desejo, ao
instinto – minha fraqueza. Queria possuí-la, mas meus toques não correspondiam
de todo à minha vontade. Sentia um leve torpor me dominar, e o vigor se perder.
Até que, por fim, me vi imobilizado. Com um leve empurrão, ela me jogou ao
chão. Em seguida vestiu-se e veio senta-se em um lugar próximo a mim.
Eu tentei falar, mas já
sentia a dificuldade até para respirar. Ela olhou o relógio. “Faltam dez
minutos para uma hora, já é tarde”. Olhou-me com a indiferença conhecida pela
última vez. Seguia rumo à porta quando, num esforço desesperado, consegui
balbuciar a última pergunta da minha vida: “Por quê?”.
Ainda de costas, ela
principiou um monólogo que eu talvez compreendesse, não estivesse a vitalidade
me deixando. Recordo apenas de algumas frases. Algo como: “Sempre permito que os
anos desejados sejam minutos...Não haverá dor, talvez agonia...Apenas cinco
minutos até a droga fazer cessar os batimentos cardíacos...Vocês são sempre
iguais, querem sempre a mesma coisa...Desde que eu era apenas uma menina...O
tempo passa, nada muda...Vocês não merecem a vida...Não é trauma, não é
vingança, é apenas instinto...”
Fonte imagem: http://extra.globo.com/incoming/3524599-32d-c7a/w640h360-PROP/2011122012622.jpg
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