“O
sussurro grave ao meu ouvido, mais que uma promessa, era um convite
ao prazer. Aquela era a resposta após tantos meses de flerte
disfarçado em cortesia. Desde o primeiro dia, nos desejamos, mas as
coisas não eram tão simples. Ele era casado, eu noiva. De todas as
formas, aquilo era errado. Confesso que sabia que cedo ou tarde algum
dos lados ia ceder. Mas, ao primeiro toque, percebi que seriamos nós
dois a sucumbir ao desejo.
Fechei os
olhos, e senti que já não poderia resistir. Quis me controlar,
repelir a investida, mas não tive forças, ou não quis ter. Aqueles
dedos se enterraram em meus cabelos, agarrando-os em seguida e
puxando-me para si. Ante a intensidade daquele beijo, minhas palavras
convertiam-se em suspiros. Quis pensar nas consequências, mas não
tive tempo. As mãos firmes percorriam meu corpo. Querendo ou não, o
pecado estava sendo cometido. Se seria punida de qualquer forma,
porque não aproveitar?
Abri os
olhos e, como quem desperta de um sonho, assumi o controle da
situação. Mas dessa vez estava obstinada. Avancei com furor sobre
ele, atirando-o sobre a mesa do escritório. Surpreso com a
iniciativa, ele se deixou dominar. Os documentos, outrora tão
importantes, agora ocupavam papel secundário, caídos ao chão. O
calor aumentava, e logo foram nossas roupas que se tornaram
desnecessárias. O despir violento não se importava com os botões
que se perdiam.
O ardor
do momento nos fazia ignorar os limites. As persianas entreabertas
permitiam que alguém do prédio vizinho avistasse facilmente nossa
cena, que ali se desenrolava. A porta destrancada era um facilitador
para um possível flagrante. Se alguém nos visse, nossas carreiras e
vidas estariam destruídas. Mas nós simplesmente não nos
importávamos com isso. Aquele risco apimentava as coisas. A sensação
de perigo e o prazer se entrelaçavam em meio à nossa lascívia.
Nossos
corpos se envolviam em meio ao suor, no entanto ainda havia uma
barreira a ser vencida. A última parte da minha lingerie, era o
derradeiro limite. Eu desejava me livrar da minha calcinha que, embora pequena, agora me sufocava. Mas resisti , pois queria que ele me libertasse.
Estremeci quando ele baixou-a até os joelhos. Displicente, deixou os
dedos passearam por entre as minhas coxas até que enfim alcançaram
minha...”
Dona Olga
então largou o livro. Sentia um calor familiar se espalhar por seu corpo.
Excitada pela imaginação, quis ser tocada como a personagem
descrevia. Mas o ronco do marido, que dormia ao seu lado, logo fez com que
tudo se dissipasse. Olhou o relógio e viu que era tarde. Precisaria
acordar cedo, levar as crianças à escola, cuidar da casa. Fechou o
livro e o pôs sobre o criado mudo.
Em seus
pensamentos, invejava a personagem do livro. Indagava se algum dia
tivera algo como aquilo. O sexo mensal era muito mais uma obrigação
que um deleite. Lançou um último olhar para o livro. A literatura
soft porn era agora sua única fonte de prazer. Mas, a julgar pela
frase na capa, que dizia algo como “Mais de 1 milhão de exemplares
vendidos”, concluiu que não devia ser a única. Infeliz consolo.
Por fim, conformou-se. Adormeceu, então, sufocando a vontade, como
era de costume.
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