Vivia sozinho há cerca de quatro anos. Minha esposa falecera e como não tivemos filhos, fui obrigado a conviver com a solidão. Ainda que eu amasse a falecida, ser solitário não era nada bom. Porém, cidade pequena é fogo, por mais que eu tentasse as mulheres sempre me viam como o “viúvo da Joana”. Enfim, arranjar uma namorada era uma missão impossível e, infelizmente, eu estava a anos-luz de distância de ser um Tom Cruise.
Durante esses anos minha vida se resumiu à: casa-trabalho-casa; casa-trabalho-boteco-casa; casa-trabalho-baralho-casa. Ou seja, eu não vivia, vegetava. A vida estava um verdadeiro tédio, porém o destino é ardiloso e saberia como mudar minha a situação. Por um golpe de sorte acertei na loteria. O dinheiro era bom, daria para fazer algumas coisas.
Mas, a lembrança do tédio pôs uma idéia em minha cabeça: sair daquela cidade. Iria para uma cidade vizinha, onde as mulheres não conheceriam o “viúvo da Joana”, mas sim o Almeida, o ricaço. E foi o que fiz. Vendi minha casa para o vizinho por alguns trocados e parti. Rumei para uma vida nova.
Ao chegar à cidade iria procurar logo uma casa para comprar, porém, uma visão me impediu. Uma visão loira, alta, bem torneada, daquelas que transforma qualquer cristão em um tarado em potencial. O fato é que não pensei em mais nada. Segui a moça até que ela entrou em um lugar que me parecia um hotel.
Julguei que ela devia trabalhar lá. Iria entrar e me aproximar, porém não estava com a indumentária adequada. Fui a um salão de beleza e fiz barba, cabelo e bigode. Em seguida fui à melhor loja da cidade e comprei um terno bonito. Troquei de roupa na loja e de lá mesmo rumei ao encontro da loira.
Seria perfeito: o lugar parecia um hotel e era o que eu precisava, sem falar que a loira estava lá. Adentrei ao recinto e imediatamente fui recebido pela loira. Porém, para minha surpresa seus trajes eram diferentes dos que havia visto. A moça trajava uma espécie de lingerie que me tirou o ar. Realmente, ela era funcionária do estabelecimento. Mas não era um hotel. Era um prostíbulo (cabaré para os íntimos).
Diante daquela recepção não pensei duas vezes: hospedei-me no local. Em menos de meia hora eu era conhecido como Dr. Almeida e tinha amizade com todas as “funcionárias” do local. Conheci inclusive a gerente que fez uma promoção para a hospedagem. Banquei uma festa e comecei meu caso de amor com a loira. Enfim, a vida de tédio não existia mais nem em lembranças.
O nome da loira era Alice. Devia ter metade da minha idade, mas quem se importa. Nosso amor era lindo. Não raro passeávamos pela cidade de mãos dadas. Eu a levava às lojas e fazia suas vontades. Não me importava em gastar, ainda possuía muito dinheiro. Todos olhavam para mim com o olhar típico de inveja. Mas, eu não ligava, estava feliz como nunca havia estado.
No “hotel”, todas as “funcionárias” eram simpáticas comigo. Viviam a me oferecer carícias gratuitas em troca de atenção bem remunerada. Porém, Alice as repelia. Sentia tantos ciúmes de mim que eu ficava até encabulado. Até a gerente não podia conversar comigo além do essencial.
E assim passaram-se os dias. Fiz algumas reformas no lugar e todas as sextas comemorávamos todos pela minha vida feliz com meu amor e meus novos amigos. Até o dia em que fui até o banco e, depois de digitar a senha, dinheiro algum saiu do caixa eletrônico. Fui então até o gerente para reclamar e ele me informou que eu não só não tinha mais dinheiro como ainda devia ao banco.
Fiquei desolado. Fui para “casa” e comuniquei à minha amada e meus amigos o que havia acontecido. Mal fechei a boca, a gerente mandou retirarem minhas coisas do quarto. As “funcionárias” me olhavam diferente. Então Alice veio até mim e se despediu. Disse que nosso amor infelizmente teria que chegar ao fim. Fui gentilmente convidado a me retirar.
Agora estou aqui. Sentado em um boteco e bebendo com os poucos trocados que me restam. Daqui posso ver o local que foi meu lar nos últimos meses. Lá está Alice, a mulher que me amou durante quatro meses, cento e cinqüenta mil duzentos reais e quarenta centavos.
Poderia estar magoado, mas, quer saber, dane-se. Estou tranqüilo, pois tenho um plano. Há alguns minutos joguei na loteria de novo. Porém dessa vez o prêmio acumulou, vão pagar dois milhões. Então vou apenas esperar aqui bebendo minha cerveja. Amanhã vou ganhar na loteria e voltar para o meu lar, meus amigos e vou viver com minha amada pelo resto da minha vida. Ou quanto tempo o dinheiro durar. Vou ser feliz.
Até que enfim ninguém morreu!!! uhehueuh
ResponderExcluirBicho, versatilidade te leva longe. Sucesso!!!
No fim as coisas da vida são mais ou menos desse jeito que vc descreveu, o pobre diabo sempre acha que ganhando na loteria terá um mundo melhor, fora da rotina na qual vc escreveu.
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