Assisti ao filme sem ter lido
qualquer crítica, entrevista ou comentário a respeito. Daí porque, em um
esforço para entender a obra, cheguei a uma conclusão diversa da dita interpretação
bíblica, a partir das cenas, elementos e diálogos do filme, a qual compartilho
com vocês.
Primeiramente, só há dois
personagens: o poeta e a esposa. A casa é uma metáfora para o relacionamento
deles dois, que é construída do zero e mantida pela esposa. Ao dizer "você é a casa", poeta quer dizer que a esposa e a casa (relacionamento) se confundem, na medida em que ela abdica da própria vida em prol da casa. As pessoas que
entram na casa no decorrer do filme são ideias, que surgem na mente do poeta, e
que ele acaba trazendo para o relacionamento. O poeta tem problemas de
criatividade, ora não tem ideia alguma, ora é tomado por tantas, que sua
convivência com a esposa é diretamente afetada. O poeta é um homem egocêntrico,
que ignora as frustrações da esposa, que não possui qualquer talento em
especial, e vive frustrada por isso.
A pedra brilhante do começo do
filme, é o amor que ficou da primeira mulher, uma lembrança que ele guarda com
cuidado, com carinho, de algo bonito, que foi dado ao personagem de Javier
Bardem, o poeta, e permitiu que ele pudesse recomeçar.
A casa representa a segurança, a
estabilidade do novo relacionamento que a personagem de Jennifer Lawrence, a
esposa fornece ao poeta. O coração que pulsa dentro da casa é o amor que a
esposa sente pelo poeta.
Esposa e poeta vivem bem na casa,
sem interferência alguma. Até então, ele não consegue escreve, enfrenta uma
espécie de bloqueio criativo.
A esposa possui uma vontade de criar
algo, mas falta-lhe o talento. A cena em que tenta compor cores para preencher
uma parede em branco denota isso. Há na esposa uma ânsia por trazer ao
relacionamento algo novo, além da casa.
O personagem de Ed Harris representa
uma primeira ideia, que chega até o poeta e o toma por completo, fazendo com
que passe a noite em claro, fascinado. É uma ideia que fascina, mas antiquada,
viciada, adoecida. Mas, que de pronto incomoda a esposa.
A cena em que a esposa encontra algo
vivo, que sangra no sanitário do banheiro, representa o primeiro impacto dessa
ideia no relacionamento, como se fosse um câncer que começava a crescer.
Os problemas se refletem diretamente
na estrutura da casa, que é a metáfora para a estrutura do relacionamento.
A personagem de Michelle Pfeiffer
representa uma segunda ideia, que chega até o poeta para complementar a
primeira ideia (Harris), mas com características mais marcantes. Esta absorve o
poeta parcialmente, porém afeta diretamente o relacionamento dele, na medida em
expõe as fragilidades da esposa, deixando-a insegura, indagando-a sobre o
porquê de falta de criatividade.
A sala onde a pedra do amor passado
é guardada representa o coração do poeta. Quando as duas ideias chegam até esta
sala, destroem a pedra, afetando o poeta diretamente, que sofre pela perda e
lacra a sala, como se quisesse isolar proteger seu coração de suas ideias e de
si mesmo.
A partir do momento em que a sala é
lacrada, o poeta perde o contato com aquilo que o remetia ao passado, e fica
entregue inteiramente ao domínio das ideias. Não será mais influenciado por seu
coração, já que este foi isolado.
A duas ideias, representadas pelo
casal Harris e Pfeiffer, causam sérios desconfortos na esposa. Para lidar com
suas crises, ela dilui um pó em água, fazendo uma solução amarela, a qual
representa remédios antidepressivos, que ela toma para poder lidar o
desconforto que as novas ideias do poeta lhe causam, pois que evidenciam sua
falta de capacidade criativa.
No terceiro dia, chegam até a casa
os dois filhos do casal visitante. São duas ideias derivadas das anteriores,
mas que conflitam entre si violentamente, de um modo que atinge até mesmo a
esposa. As ideias lutam entre si, até que uma elimine a outra.
A ideia que sobrevive acaba por ser
descartada pelo poeta, mas não sem antes alertar a esposa pelo que está por vir.
A cena do velório representa a mente
do poeta sendo invadida por novas ideias, que são trazidas pelas duas primeiras
(Harris e Pfeiffer). A esposa, acostumada à calmaria da improdutividade de
outrora, se vê diretamente afetada pelas inúmeras ideias que começam a disputar
espaço com ela na casa (relacionamento). Algumas dessas ideias até tentam ajudá-la
a manter a casa, mas a maioria delas se mostra danosa, destrutiva à estrutura
que a esposa construiu para abrigar o poeta.
O coração pulsante no interior da
casa, que representa o amor da esposa pelo poeta, vai definhando aos poucos.
O poeta não consegue enxergar que as
ideias estão destruindo a casa (seu relacionamento), pois está totalmente
encantado por elas, depois de tanto tempo sem criar nada.
A esposa, porém, ao ver a casa sendo
destruída, se revolta de um modo explosivo, fazendo com que todas as ideias
desapareçam.
Neste momento, o poeta discute,
briga em favor das ideias. A esposa reclama por eles não fazerem sexo, numa
metáfora ao fato de que eles não fazem nada juntos, que ele não compartilha um
pouco do seu talento com ela. A esposa reconhece, de certa forma, que não
consegue criar algo sozinha.
O casal faz amor e, no dia seguinte,
a esposa engravida. Ao engravidar, abandona os antidepressivos. A gravidez é
metafórica, representa que ela enfim consegue despertar em si alguma
criatividade, ainda que com o auxílio inicial e necessário do poeta.
Durante meses o poeta trabalha para
organizar todas as ideias que o visitaram. Por fim, consegue compor um poema. Nesse
ínterim, esposa cuida da recuperação da casa, do relacionamento.
Porém, tão logo o poeta finaliza o
poema, novas ideias começam a surgir, querendo a atenção dele para se
materializar através de suas palavras.
Estas ideias, a princípio, não
entram na casa. Porém, logo o poeta se deslumbra com tamanha profusão de
ideias, e a casa (relacionamento) logo é invadida por elas novamente. A esposa
é posta de lado uma vez mais. Porém, dessa vez, se vê ameaçada.
O poeta então entra em uma espécie
de surto criativo, e começam a surgir ideias cada vez mais fortes. Umas ainda
se preocupam em manter a casa, outras são completamente destrutivas, e umas
outras são egocêntricas, voltadas para cultuar a imagem do poeta enquanto uma
espécie de Deus.
O diálogo em que um dos “fãs” fala
que o poeta “escreveu as palavras para ele”, representa não apenas uma ideia
egocêntrica, mas o desejo do escritor de ver suas palavras moldando-se ao
leitor.
A esposa já não é vista em meio a
tantas ideias, mesmo quando estas a ameaçam, agridem. A casa começa a ser
severamente destruída, representando o desmoronar do relacionamento.
O poeta perde o controle sobre as
ideias, que conflitam entre si, tentando prevalecer.
Porém, em meio ao desespero, o poeta
consegue despertar e salvar sua esposa. Fugindo da confusão, ele consegue
levá-la até o escritório (seu coração) onde guardava a pedra preciosa, aquele
recinto outrora isolado onde as ideias entram.
É nesta sala, que representa o
coração do poeta, que a esposa dá à luz. A criança representa uma criação dela
com a ajuda do poeta. Linda, pura, e frágil, a criança representa uma obra
conjunta, criada não pela razão, mas sim pelo amor.
A esposa cuida da criança, a
alimenta. Mas reluta a entrega-la ao poeta.
Os presentes que as ideias que
aguardam do lado de fora entregam, representam as coisas que o poeta conseguiu
com suas ideias racionais, que aguardam do lado de fora do seu coração, esperando
para ver a nova criação.
A esposa, porém, não quer entregar a
criança, pois sabe que as ideias do surto criativo dele podem destruí-la.
Por um descuido, a esposa adormece e
o poeta se apodera da criança, entregando-a às ideias que aguardavam fora do
seu coração.
Como previsto, as ideias logo tratam
de destruir a criação, querem se alimentar dela, beber de sua pureza. As ideias
do poeta carecem dessa inocência, vez que já impregnadas dos seus vícios e
problemas.
Ao ver sua criação despedaçada, o coração
que pulsa nas paredes da casa para de bater, representando a morte do amor da
esposa pelo poeta. Ela então resolve acabar com tudo.
Quando decide incendiar a casa,
está, em verdade, acabando com o relacionamento, ainda que saiba que aquilo a
irá destruí-la, aceita sofrer, pois já não há como sustentar aquela situação.
O poeta vence o domínio das ideias
por um instante, e tenta impedi-la, pois sabe que necessita da estabilidade de
um relacionamento.
Mas, já é tarde. Ao incendiar a
casa, a esposa destrói o relacionamento, mas também sai destruída.
A cena final, em que o poeta
encontra o que sobrou dela em meio às cinzas, e dela tira o que de mais bonito
ainda resta, o amor que ela tem por ele, uma nova pedra preciosa, uma nova
lembrança, que ele precisa para seguir em frente, e recomeçar outra casa, outro
relacionamento, com uma outra mulher.
Tão logo esta pedra preciosa é posta
na sala que representa o coração do poeta, a casa se restaura, e outra mulher
desperta na cama, representando o início de um novo relacionamento, e a
repetição de um ciclo.
O título do filme representa a
necessidade que o poeta possui de ter uma mulher que o forneça estabilidade,
segurança, que cuide dele, nos momentos em que sua criatividade está
adormecida.
Porém, sempre que sua criatividade
desperta, e ele entra em seu surto criativo, ele põe tudo a perder e se entrega
às próprias ideias, ainda que isso signifique pôr tudo a perder.
O diálogo em que a esposa diz que o
poeta nunca a amou, mas que ele amava o amor dela por ele, denota essa
necessidade de se sentir amado, e o egocentrismo de um artista apaixonado
apenas por suas próprias criações, que vê o amor como algo belo de se ter, uma
pedra preciosa para ser admirada.
Enfim, esta foi a interpretação a qual cheguei, tendo em conta os elementos destacados. Claro, o filme é uma obra fantástica, que deixa em aberto a possibilidade para inúmeras análises. O seu mérito resiste justamente em nos fazer buscar uma explicação para os elementos que surgem na tela. Conquanto a referência cristã pareça bem evidente, há outros aspectos que podem ser analisados, como a própria natureza do relacionamento entre o casal.
Espero que você, caro leitor, tenha gostado desta interpretação. Peço que manifeste a sua opinião a respeito, concordando ou discordando. É possível que algum símbolo não tenha sido analisado. Portanto, aguardo seu comentário.
Enfim, esta foi a interpretação a qual cheguei, tendo em conta os elementos destacados. Claro, o filme é uma obra fantástica, que deixa em aberto a possibilidade para inúmeras análises. O seu mérito resiste justamente em nos fazer buscar uma explicação para os elementos que surgem na tela. Conquanto a referência cristã pareça bem evidente, há outros aspectos que podem ser analisados, como a própria natureza do relacionamento entre o casal.
Espero que você, caro leitor, tenha gostado desta interpretação. Peço que manifeste a sua opinião a respeito, concordando ou discordando. É possível que algum símbolo não tenha sido analisado. Portanto, aguardo seu comentário.