Após alguns passos apressados,
sentaram-se os dois nos degraus de uma escada. Ela parecia tranquila. Ele,
apressado em resolver logo as coisas, começou:
- E então? O que você quer falar
comigo?
- Calma. Estou com fome. Vou
falar enquanto como.
- Tudo bem, mas seja rápida.
Temos pouco tempo.
- Fique tranquilo. – Disse
enquanto desembrulhava um sanduíche que trouxera envolto em um lenço de papel. Após
parti-lo ao meio, prosseguiu. –Aqui, essa metade é sua.
- Mas eu não estou com fome.
- Eu sei. Mas, pegue mesmo assim.
Vai ajudar a entender o que eu quero te dizer.
Ele apanhou o pedaço sem entender ao
certo. Diria alguma coisa, mas deixou o olhar se fixar em um ponto a sua frente
e ficou em silêncio. Ela prosseguiu:
- Pois bem. Está vendo esse
pedaço de sanduíche que eu acabo de lhe entregar?
- Aham. – Respondeu ele sem
sequer piscar os olhos.
- Ele representa a nossa união.
Minha mãe me disse que quando as pessoas se unem, elas passam a compartilhar
tudo o que têm. Já que você é meu namorado, eu tenho que dividir com você.
Entendeu?
- Aham.
- Pois é. Mas não é só isso. Se
eu tenho que dividir o que é meu com você, você também tem que dividir o que é
seu comigo. Entende?
- Aham.
- Você está prestando atenção no
que eu estou dizendo?
- Aham. – Repetiu, dessa vez com
um leve aceno de cabeça, para reforçar a resposta.
- Tudo bem. Minha mãe me explicou
que uma mulher inteligente deve saber o que quer. Eu sou inteligente. Então,
quero te dizer que, de agora em diante, tudo o que é seu também será meu.
Porque isso faz parte da nossa união.
- Aham.
- Isso significa que metade da
sua mesada será minha. E, no futuro, quando casarmos, você também terá que
dividir seu salário comigo.
- Aham.
- Enfim, só queria deixar as
coisas esclarecidas agora que estamos namorando. Minha mãe me disse que isso é
muito importante. Fico feliz que você tenha entendido tudo.
- Aham. É só isso? – Perguntou a
ponto de se levantar.
- Sim. Agora pode ir. E, já que
não quer esse pedaço de pão, pode me devolver.
Ele largou o pedaço de sanduíche e
partiu em disparada para o outro lado do pátio, onde os outros garotos estavam
jogando futebol. Desde o início, sua atenção estivera naquele jogo. Em momento
algum, ele deu atenção a qualquer palavra que ela disse, só queria que ela
acabasse antes do fim do recreio, para que ele pudesse jogar. Ela sabia disso,
mas pouco se importava, desde que ele seguisse concordando com o que era dito. Ambos
tinham apenas 10 anos. Mas, acredite, nesse aspecto, entre eles, nada mudaria
com o passar dos anos.
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