Ele acendeu um cigarro e se sentou em uma cadeira posta junto
à janela. Ficou então a observá-la arrumando a cama. Permaneceu em silêncio por
alguns segundos. Por fim, deu uma tragada profunda e iniciou.
- Há algo de errado. – Afirmou.
- Errado? Com o quê? – Indagou surpresa, demonstrando muito
mais interesse no cobertor que dobrava.
- Com o sexo.
- Foi ruim?
- Não. Mas também não foi bom.
- Como assim? – Perguntou, agora o olhando nos olhos.
- Não foi bom como costumava ser a dez anos atrás, quando nos
conhecemos.
- Ah sim. Pois é... há dez anos éramos mais jovens. O tempo
passou, as coisas mudaram. – Respondeu com certa ironia.
- Não. Você não está entendendo. Não foi esse tipo de
mudança. Até pouco tempo eu podia sentir algo mais que prazer. Até pouco tempo,
fazíamos amor. Hoje sinto que é só sexo, sem qualquer significado.
- Não sei por que você pensa isso. Ainda fazemos amor. Amo
você tanto quanto antes.
- Desculpe, mas não é o que eu sinto. Tenho a sensação de que
cedo ou tarde tudo vai acabar e eu serei pego de surpresa.
- Deixe de tolices. Você sabe que isso não vai acontecer.
- Então porque eu sinto esse vazio?
- Talvez você esteja esperando que eu seja algo que jamais
poderei ser.
- Não é isso. Eu já me conformei com as coisas como elas são.
É que... não sei...você às vezes parece distante.
- A vida não é mais tão simples. Você sabe disso. Temos
problemas que às vezes tomam nossa atenção, mesmo quando não queremos. São
contas a pagar, filhos a educar.
- Mas havíamos combinado que quando estivéssemos juntos
esqueceríamos tudo.
- Eu sei, eu sei. Mas é que...
- Eu só quero que você se entregue a mim.
- Perdão. Tenho falhado com você. Prometo que não vai mais
acontecer. É você quem eu amo, nunca esqueça isso.
- Também amo você. – Sorriu satisfeito.
- E então? Mais uma vez? – Perguntou ela com um olhar
promíscuo.
- Sempre.
Os corpos se abraçaram e, assim que os lábios se tocaram, o
barulho do motor de um carro, que se aproximava, pôde ser ouvido. Os dois se
entreolharam e trocaram uma mensagem silenciosa. Apanharam as roupas jogadas ao
chão rapidamente e começaram a se vestir. Ela agradeceu por ter arrumado a
cama, não esperava que o marido chegasse tão cedo.
Ele a beijou uma última vez, subiu na cadeira onde outrora
estivera sentado e pulou a janela. Caminhou pelo jardim envolto na escuridão da
noite. Antes de pular o muro, olhou para trás. Através da janela, pode vê-la
beijando o marido que acaba de chegar. Era um beijo caloroso, com paixão e
saudade. Era daquilo que ele sentia falta. Não importava o que ela havia dito,
estava vendo agora que, realmente, havia uma mudança: ela já não o amava; amava
o próprio marido.
Uma lágrima correu lentamente por seu rosto: fora traído.