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sábado, 30 de abril de 2011

Artifícios

Inebriante olhar
Embriagados beijos
Amorosos ensejos
Saboroso sonhar

Desvairados sorrisos
Inocentes olhares
Ecoando nos ares
Maldosos e precisos

São artifícios teus
Que usas sem pensar
Que os instintos meus

Intentam evitar
E eu rogo em vão a Deus
Na ânsia de escapar

Fonte Imagem: http://www.ilafox.com/2010/07/sexy-purple.html

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Coração Abandonado

     Certo dia, enquanto caminhava pela vida, encontrei um coração abandonado. Poderia tê-lo ignorado como muitos já haviam feito, mas decidi que cuidaria dele. Pelo estado em que se encontrava, devia estar esquecido ali há muito tempo. Estava em ruínas, com muitas partes avariadas. Palpitava sem forças, e posso dizer que sem motivos. Visivelmente precisava de meus cuidados, e foi o que fiz.
     Comecei com pequenas mudanças, reparos simples. Mas, aos poucos fui dando vida novamente àquele coração. Tirei toda a poeira que havia se acumulado com o tempo. Arranquei as ervas daninha da mágoa e do ódio que haviam se enraizado por todo o lugar. Tirei as teias do abandono. Trouxe luz à escuridão que há muito o dominava. Joguei as desilusões no lixo.

     Pintei aquele coração com minhas cores favoritas. Vesti-o das tonalidades que eu mais gostava. Aos poucos fui redecorando-o com mobílias simples, mas necessárias: felicidade, alegria, carinho, afeto. Mas percebi que ainda faltava alguma coisa, pois mesmo com todo o meu esforço, ele ainda palpitava devagar. Então, dei-lhe o que faltava, trouxe a energia que iria impulsionar o perfeito funcionamento daquele coração: o amor.
     Sim, o que a princípio era apenas uma reforma amigável, com o tempo assumiu outra conotação. Aquele coração ficou tão belo depois de pronto, tão aconchegante, que querer habitá-lo foi inevitável. Afinal, ele tinha tudo aquilo que eu sempre procurei. Então, decidi que faria daquele coração meu doce lar. Instalei-me com a certeza de que aquela seria minha derradeira morada. Jamais sairia dali.
     Mas, infelizmente eu estava enganado. Embora eu tivesse cuidado daquele coração por tanto tempo como se fosse meu, ele não o era. Tive certeza disso quando o proprietário dele veio reclamar a posse. Alegava que eu o havia invadido sem permissão e que devia sair. Vi-me em desespero, afinal, eu havia trazido a vida novamente àquele lugar, se ele estava belo e palpitante agora era por minha causa. Era injusto ser expulso daquela forma.
     Contudo, quando se trata de um coração, não existe a racionalidade da justiça. E acabei por ser despejado. Rapidamente alguém ocupou meu lugar e passou a habitar aquele coração. Senti-me um tolo, ninguém se importava quando ele estava abandonado e sem vida, mas bastou eu cuidar dele que todos passaram a cobiçá-lo.
     Embora magoado, decidi que não ficaria me lamentando. Voltaria para o que sempre me pertenceu: meu coração. Mas, ao me deparar com ele, fiquei desolado. Meu coração estava arruinado, pior até que aquele que há algum tempo eu havia encontrado abandonado. Na ânsia por reparar e cuidar do coração alheio esqueci o meu, que com o passar do tempo foi se deteriorando sem cuidados.
     Agora estou aqui diante dele. Dói ver meu coração neste estado, mas me faltam forças para concertá-lo. Mesmo assim não vou abandoná-lo. Vou me recolher nele do jeito que está e tentar sobreviver. Quem sabe um dia alguém se compadece, assim como eu o fiz uma vez, e resolve concertar meu pobre coração. Assim, quando vier cuidar dele, vai me encontrar e quem sabe cuidará de mim também.


Fonte Imagem: http://img517.imageshack.us/img517/237/almostperfected1280x102am8.jpg

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Ironia

     O meu expediente acaba de começar. Eu estava respondendo ao e-mail de um cliente importante quando minha superior entrou. Fechou a porta à chave e veio em minha direção desabotoando o vestido. Eu permaneci imóvel tentando entender o que acontecia. Tive completo entendimento quando ela parou diante de mim trajando apenas aquela lingerie vermelha.
     Naquele momento percebi que não haviam saídas. Durante meses eu conseguira resistir às investidas daquela mulher, porém jamais imaginei que ela chegaria a tanto. Estava confuso, nervoso. Ela percebeu e avançou sobre mim tentando “me acalmar”. Pressionou o corpo sobre o meu e sussurrou ao meu ouvido: “Agora não há volta. Eu disse que consigo tudo o que desejo. Não há como você fugir de mim!”.
     Aquelas palavras provocaram em mim um misto de excitação e receio. Receio pelo que eu estava prestes a fazer. Logo eu, que sempre fui fiel e condenava qualquer tipo de traição. Porque aquilo estava acontecendo? Porque justamente comigo? Antes que pudesse me fazer mais perguntas, ela começou a me despir. Percorria meu corpo com as mãos, com tanta intimidade que parecia conhecê-lo perfeitamente.
     Aos poucos fui perdendo o controle, de modo que a excitação me dominou. Avancei sobre ela com a voracidade de um animal sedento. Os olhos dela brilhavam de êxtase. Joguei tudo que havia sobre a mesa ao chão e a deitei. Percorri aquele corpo com beijos, dos pés aos lábios. Cometeria aquele pecado. Iria ceder ao impulso, mesmo sabendo a culpa que viria depois.
     Porém, quando olhei para aquele rosto, a imagem de minha esposa me veio à mente. Recordei a noite anterior (quando havíamos feito amor); a voz dela me dizendo “eu te amo”; o sorriso com que me recebe sempre que chego do trabalho. Por fim, vislumbrei a imagem dela há poucas horas me beijando e desejando um bom dia de trabalho.
     Após tais lembranças, era impossível continuar com aquilo. Mas como explicar isso para a mulher sob a minha mesa quase nua com o corpo embaixo do meu? Ela percebeu que meu rosto assumira a expressão de preocupação de outrora e tentou me segurar. Mas consegui sair de cima dela e comecei a me vestir rapidamente. O que era excitação tornou-se fúria. Ela avançou sobre mim tentando rasgar minhas roupas. Dizia que me processaria por assédio sexual, que minha vida profissional estaria acabada.
     A porta trancada e a força dela tornavam impossível a tentativa de sair dali. Porém, uma janela aberta foi a oportunidade perfeita. Passei por ela rapidamente e cai no estacionamento do escritório. Por sorte a chave do carro ainda estava presa à minha calça. Entrei no veículo rapidamente e parti com velocidade. O som dos pneus queimando o chão despertou a atenção de quem estava na rua. Ela ficou me olhando pela janela com o olhar de fúria típico de uma mulher rejeitada.
     Eu sabia que depois daquilo perderia meu emprego. Mas não importava, tudo o que eu queria era chegar em casa e ficar com aquela que me amava. Como eu pude pensar em traí-la? Logo ela que sempre fora tão fiel, tão pura. Eu era um monstro. Eu devia desculpas a ela pelo erro que quase havia cometido. Eu precisava daquele abraço. Eu precisava saber que ela me perdoaria.
     Dirigi como um louco, ignorando a sinalização, cometendo as mais variadas imprudências. Mas, felizmente consegui chegar em segurança até minha casa. Como não tinha condições de estacionar o carro, acabei deixando-o sobre a calçada. Corri em direção ao meu porto seguro. Corri em direção a minha amada. Sabia que ela ficaria surpresa ao ver-me tão cedo em casa. Não havia como mentir, eu devia ser sincero e contar tudo o que acontecera.
     Entrei e comecei a procurá-la. Como não  achei-a nos outros cômodos, fui até o nosso quarto. Ela devia estar lá. E estava. Ao abrir a porte contemplei uma cena inesperada: vi minha esposa fazendo amor com outro homem no chão do quarto. Ela se contorcia de prazer e gemia com vontade. De modo que, imersa no prazer, nem notou minha presença. Meu sorriso, assim como o meu coração, se desfez diante daquilo.
     Irônico não? Mas a vida é irônica. Ela traça os mais tortuosos caminhos e somos obrigados a segui-los enquanto ela zomba de nós. Eu sou um ótimo exemplo: fui ludibriado tão bem e por tantos anos. Mantive-me fiel, mesmo quando parecia impossível. Em vão. Aquela que eu julgava ser o anjo da minha vida, na verdade era o mal que me cegava com seus adultérios. Em poucas horas minha vida se destruíra por completo. Perdi meu emprego, a ilusão de um amor. Mas em troca ganhei uma certeza: a vida às vezes é ironicamente cruel com quem tenta fazer a coisa certa.



sábado, 16 de abril de 2011

Eterno

     E lá está ele novamente. Bem no horário costumeiro. Estou aqui há dez anos e jamais ele se atrasou. Tão dedicado, tão pontual. Ele atravessa o jardim, cuidadosamente apanha uma flor e caminha até o banco que fica sob o carvalho. Senta-se e se põe a observar o horizonte, esperando-a chegar. Seus olhos brilham de esperança. Ele aguarda. O sol parte e, mais uma vez, ela não veio. Ele então levanta, esboça um sorriso, e caminha de volta com a flor nas mãos.
     Há dez anos vejo esta cena se repetir. No começo não entendia o porquê daquele senhor seguir isto religiosamente todos os dias. Mas, com o passar dos anos, pude compreender que o sentimento que o motiva é bem mais forte que a idade. Agora sei, que enquanto este homem tiver forças para caminhar, ele permanecerá repetindo este gesto. Mas, para que fique mais claro, permita que eu conte a história deste pobre homem.
     Ele sempre viveu nesta casa. Fora educado por seu pai, homem de posses, mas que o via como sua maior riqueza. Fruto de um amor atrapalhado pelo destino, tivera de apartar-se prematuramente do seio materno por culpa de um acidente que ceifou a vida de sua genitora. Crescera ao lado do pai, que cuidou de ensinar-lhe tudo o que sabia.
     Viveu rodeado pela atenção paterna. Era rapaz distinto, interado da cultura de seu tempo e bem relacionado. Mas a infelicidade de um infarto fulminante ceifou a vida daquele a quem tanto amava. Tinha exatos vinte anos quando se viu sozinho. Embora dor fosse forte, entendia que era preciso tomar as rédeas da situação e assumir o controle do que herdara. Essa era a vontade de seu pai. Ele o preparara para isso desde cedo.
     Fora bastante promissor em sua administração, de modo que em cinco anos já dobrara a riqueza que havia herdado. Era cobiçado pelas solteiras da cidade. Os pais assediavam-lhe oferecendo-lhe as filhas. Mas, ele parecia não se importar com a solidão. Era como se aquela vida só existisse em função do trabalho. Pelo menos ele não demonstrava interesse algum em relacionamentos.
     Mas, como o destino sempre opera mudanças em nossas vidas, na dele não havia de ser diferente. Aquele coração congelado pelo tempo se reavivaria consumido pelas chamas do amor por uma morena. A mais bela dentre todas. Porém, para sua infelicidade, ela era casada. Esposa do homem que sempre fora inimigo de seu pai, com quem também tinha suas desavenças.
     Embora a situação não os permitisse viver o que sentiam, o amor daria um jeito de uni-los. E foi por meio de encontros furtivos que puderam gozar de seus sentimentos. Todos os dias se encontravam antes do pôr-do-sol sob aquele velho carvalho. E ali deixavam-se guiar pelo desejo de seus corações. Sonhavam, faziam planos para o futuro.
     Futuro que infelizmente não chegou. Pois foram descobertos. O marido da moça, movido pela cólera de ter a honra manchada tratou de separá-los para sempre. Certo dia quando ela voltava de mais um encontro amoroso, ele a matou. Todos sabiam que ele cometera o crime, mas não havia como provar. Assim, ele seguiu impune.
     Quanto ao nosso jovem, ao saber tal notícia não acreditou. Julgava que nem mesmo a morte poderia ser mais forte que seu amor. Tanto que, mesmo vendo sua amada morta, julgou estar sendo ludibriado por sua visão. Julgou que o mundo tentava enganá-lo. E assim, desconfiando de tudo e todos, mergulhou nas águas da loucura e jamais saiu.
     No dia seguinte após o enterro, ele foi esperá-la sob o carvalho. Mas, como se pode imaginar, ela não apareceu. Todos que contemplaram a triste cena, tentaram dissuadi-lo de insistir. Afinal, ela estava morta. Porém, contrariando todos, ele recusou, e deu como resposta:
     “A morte é um mal que só encontra morada no coração daqueles que desconhecem a pureza do amor. A vós ela pode estar morta, mas não para mim. Encontrar-me-ei com ela até o fim de minha vida, pois sei que todos os dias ela virá ao meu encontro, e eu seria um tolo se a deixasse esperando.”
     Dito isto, ele permaneceu cumprindo o ritual do encontro diário. E até hoje o faz. Nem mesmo a idade avançada consegue deter este coração. Às vezes tenho a impressão de que ele está certo, que ela vai ao seu encontro todos os dias. Às vezes o julgo louco. Mas, na verdade, eu o invejo. Invejo o sentimento que vive neste homem, que o impele a vencer o tempo, a idade, a razão.
     Quisera eu um amor assim. A cada dia que vejo este homem caminhar pelo jardim para ir ao encontro de sua amada, percebo que a vida é pouco para o amor. Que a força deste sentimento ultrapassa as fronteiras deste mundo. Compreendo que a eternidade pode ser pouco para viver tal sentimento. E sinto pena de mim, por sentir que talvez nunca sinta algo com tamanha intensidade. Nunca conhecerei o poder de um sentimento eterno.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Perfeição

     Olhe agora bem fundo em meus olhos e tente me definir. Não consegue? Não faz idéia de quem sou? Pois bem, permita-me apresentar-me: sou tudo o que sempre desejastes. Soa pretensioso, não? Eu sei que sim. Mas, acredite, eu tenho motivos para afirmar isso com tamanha segurança. Pois eu te conheço mais do que possas imaginar. Duvidas? Provar-te-ei então.
     Eu sou aquele que embala teus sonhos entoando tuas canções preferidas ao pé do ouvido. Aquele que te olha nos olhos em momentos difíceis e traz a segurança que precisas. Sei o momento exato de te fazer sorrir, de te abraçar, de aceitar teus devaneios. Sonho teus sonhos e vivo como se tua vida fosse o farol que guia a minha.
     Sou o homem que aceita teus defeitos e se adapta às tuas vontades. Que compreende quando precisas ficar sozinha. Que diz as palavras de carinho que sempre sonhastes ouvir. Que te corteja como nenhum outro ousou fazer. Que entende o que estás sentindo sem que precises dizer uma só palavra. Que conhece a tua essência, teu mistério, teu enigma.
     Sou aquele que te despertará com beijos após cada noite de amor. Que passará horas ao teu lado fazendo planos para o futuro. Que saberá onde e como te tocar. Que será romântico e sensível o suficiente para te surpreender todos os dias com um presente ou, simplesmente, uma flor. Que adentrará pelas fronteiras de teu coração trazendo-te a vida que em teu seio permanece adormecida.
     Sou aquele que te pedirá em casamento sob a luz do luar em um jardim de rosas vermelhas. Que viverá a efêmera eternidade ao teu lado, devotando a ti todos os meus suspiros de amor. Que lamentará ter apenas uma vida para te ofertar. Que terá os lindos filhos com que sonhas. Que te protegerá do mundo.
     Agora que me conheces, podes dizer que eu seria perfeito. Porque o “seria”? Não, não errei o verbo, ele está perfeitamente correto. Pois, na verdade, eu não existo. Sou o fruto de tua mente, o teu devaneio mais profundo. Sou o homem que você idealizou ao longo destes anos e que busca encontrar. Sou tua perfeição masculina subjetiva.
     Pareces desapontada. Mas não fique assim. Estou tendo esta conversa contigo para te dizer que sou tudo o que sonhas, mas que não queres. Isso mesmo. Não daríamos certo. Eu seria perfeito demais. Você jamais me amaria. Poderias gostar, mas amar, jamais. Dito isso, te recomendo que desista de mim. Encontre alguém que lhe ame e seja feliz. Pois a perfeição não foi feita para ser amada, apenas idealizada.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Apenas mais uma carta de amor...

     “Todas as cartas de amor são ridículas”, já dizia o poeta. Esta aqui não possui a pretensão de não o ser. Mas, embora possa parecer ridícula para quem a leia, não o é para quem entrega o coração por meio de tais linhas. Pois, não são simples palavras que aqui estão. São antes, suspiros de amor prolatados.
     A ti escrevo com a minha verdade, despido de tudo o que antes me impedia de revelar o que sinto. Pois agora entendo que de nada vale viver os pudores sacrificando meus sentimentos. Há muito perdi o sentido da vida, e sei que contigo hei de encontrá-lo novamente. Chega dessa querela homérica, a felicidade anseia por liberdade e é livre dos grilhões do orgulho que aqui escrevo.
     Bato às portas do teu coração, pois meu amor pede teu abrigo. Cansado de vagar sozinho, errante, meu sentimento clama por ti, pois mesmo não exercendo posse efetiva, és a dona de meus pensamentos. Deves vir assumir teu trono como rainha e senhora de meu mundo e minhas vontades.
     Talvez eu esteja pedindo muito, mas, acredite, o que devoto a ti excede tudo o que possas imaginar. Então, permita que nossas vidas se alinhem e sigam juntas pela imensidão do amor. Permita-me desbravar os limites inabitados do teu coração. Conceda a mim a honra de entalhar minha marca em tua vida, para que mesmo que tempo e a efêmera vida se tornem nossos inimigos, tenhamos a recordação desse devaneio.
     Meu desejo maior reside em ti. Deixe-me amar-te com minha essência e mostrar ao mundo que sou completo. Pois tudo o que quero é passear por teus sonhos como se fossem meus. E me perder em teus lábios e ver a vida passar, e navegar por teus mares sem querer jamais ancorar.